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16h33min - 23 de Agosto de 2012 Atualizado em 16h13min - 01 de Julho de 2013

ENTREVISTA COM RICARDO HAUSMANN: "Para se desenvolver, países e estados devem se diversificar"

Diretor do Centro de Desenvolvimento Internacional da Universidade de Harvard fala sobre o Product Space, metodologia de planejamento que será aplicada de forma inédita por Minas

Uma nova teoria que surge no horizonte de governos mundo afora defende que o desenvolvimento está diretamente ligado à complexidade e à diversidade das atividades econômicas de cada país. Esta tese é a base da ferramenta de planejamento Product Space, criada pelos pesquisadores Cesar Hidalgo, do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), e Ricardo Hausmann, da Universidade de Harvard.

Os dois especialistas firmaram parceria com o Governo de Minas, por meio do Escritório de Prioridades Estratégicas, para aplicar este conceito inovador de planejamento. O objetivo é mapear de forma detalhada as potencialidades de desenvolvimento do Estado.

A dupla é autora do estudo “Atlas of Economic Complexity”, uma publicação de Harvard que, segundo o jornal americano The Washington Post, pode vir a ser considerado o melhor modelo para a previsão de crescimento das nações no futuro.

Com pouco mais de seis anos de existência, o Product Space já foi aplicado em países como Rússia, México, Colômbia, Peru, China, Estados Unidos, Argentina, Egito, Índia, África do Sul e Marrocos, mas esta é a primeira vez que os especialistas realizam a análise em um estado subnacional.

No caso de Minas Gerais, a base de dados que está sendo montada para dar suporte ao Product Space, trabalha com informações dos ministérios do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, e do Trabalho e Emprego, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e das secretarias de Estado de Fazenda (SEF) e de Transportes e Obras Públicas (Setop).

“O nível de detalhamento dos dados fornecidos pelo Governo de Minas para este estudo é o mais alto que já encontramos”, afirma Ricardo Hausmann.

De acordo com o pesquisador, que foi ministro de Planejamento da Venezuela e atualmente é diretor do Centro de Desenvolvimento Internacional de Harvard, com tais informações sobre as regiões mineiras e também sobre o Brasil, será possível realizar, por meio do Product Space, um mapeamento ainda mais aprofundado das áreas nas quais o Estado pode se desenvolver.

Confira a seguir a entrevista exclusiva que o pesquisador Ricardo Hausmann concedeu à Agência Minas logo após ministrar, juntamente com o colega Cesar Hidalgo, um workshop sobre o Product Space para cerca de 80 gestores do Governo de Minas.

Como o sr. define o Product Space?

O Product Space é uma ferramenta que permite entender qual é a distância entre as coisas que um lugar sabe fazer e as coisas que este lugar não sabe fazer – seja uma municipalidade, uma cidade, uma região, um Estado ou país. Nós vemos o desenvolvimento como um processo de diversificação e de aumento na complexidade dos produtos feitos. Gostamos de utilizar a metáfora de que o desenvolvimento é como um jogo de “scrabble” (jogo de tabuleiro cujo objetivo é formar palavras) em que os lugares possuem “letras”. As letras são capacidades produtivas e as palavras formadas pelas letras são os produtos. Então, quanto mais letras tem um lugar, mais palavras diferentes e complexas podemos formar. Os lugares mais desenvolvidos fazem mais palavras e palavras mais compridas, quer dizer, seus produtos são mais diversificados e mais complexos.

Então o processo de desenvolvimento passa por esta complexidade?

Sim, o processo de desenvolvimento é o aumento do número de letras, ou seja, de capacidades produtivas, e seu resultado é um número crescente de produtos e da complexidade destes produtos.

E qual o maior desafio dos governos no processo de crescimento e de incremento desta complexidade?

O grande problema é que os lugares não têm capacidade para realizar as atividades que nunca realizaram. Uma cidade que não possui fábricas de relógio não tem relojoeiros. E ninguém quer ser relojoeiro em um lugar onde não se fazem relógios. Assim, ninguém pode aprender a ser relojoeiro neste lugar. Este problema “do ovo e da galinha” faz com que o desenvolvimento seja ineficientemente lento. O desenvolvimento é facilitado quando se consegue resolver estes problemas de coordenação das capacidades que faltam com as demandas dessas capacidades. Os países têm dificuldade em identificar quais atividades são mais factíveis, dadas as letras que já têm ou as poucas letras que faltam para poder completar este ciclo. O Product Space ajuda os governos a se orientar sobre quais atividades adjacentes podem ser possíveis.

Como funciona o processo de aplicação da ferramenta Product Space?

O primeiro passo é identificar as capacidades produtivas de cada lugar. Nós desenvolvemos uma ciência e essa ciência tem uma aplicação tecnológica. Existe uma teoria que gerou essa reinterpretação do desenvolvimento, que demonstrou que esta complexidade é o que explica o potencial de crescimento de um país. Esta teoria gerou os métodos para inferir as capacidades dos países a partir de seus produtos e atividades. Eu sei que São José dos Campos tem capacidade para fazer aviões, porque já faz aviões. Assim como Betim tem capacidade para produzir automóveis. A ciência nos permitiu desenvolver uma tecnologia que, aplicada a uma base de dados, gera visualizações e respostas a estas perguntas.

De onde vem a expressão Product Space?

O que nós fazemos é medir um espaço entre produtos, uma distância não geográfica entre eles. Se os produtos são como palavras formadas por letras, queremos saber o quão distinto é um produto do outro, em termos de quantas letras eles compartilham ou não compartilham. Não é um espaço medido em quilômetros; a distância é composta pelas diferenças entre as capacidades produtivas necessárias para fazer um produto.

 

“O Product Space será muito útil para na elaboração

de políticas públicas para o desenvolvimento de Minas Gerais”.

 

E como é a experiência de aplicar, pela primeira vez, esta ferramenta em um Estado subnacional?

Esta parceria com o governo de Minas Gerais é muito interessante, pois nos deu o melhor nível de informação que jamais tivemos em país algum. E isso vai nos permitir ir além e desenvolver as melhores aplicações que jamais desenvolvemos. Esta experiência nos mostrou que os governos possuem muito mais dados do que a informação, propriamente dita, que geram com esses dados. No caso de Minas, vamos transformar esses dados em informação concreta e disponibilizar para todos os brasileiros. Este detalhamento não havíamos tido em outros trabalhos que realizamos. Aqui, tivemos acesso a dados sobre emprego e sobre o comércio de Minas com outros estados num nível de detalhes inédito. Isso vai nos permitir fazer uma análise muito mais extensa.

Vocês já aplicaram a ferramenta Product Space em muitos países. Pode citar algum deles como tendo sido uma experiência marcante?

Em todos os países por onde passamos, acho que conseguimos influenciar na forma como os governos e os investidores interpretam as possibilidades produtivas e a forma como melhor se organizar para explorar as oportunidades. Uma das ideias que queremos deixar é que os países e estados, quando se desenvolvem, não devem se especializar, mas se diversificar. As pessoas e as empresas se especializam, mas os países não. Muitas das perguntas que os governos se fazem é: “Em que devemos investir? Quais devem ser nossas priiodades?” E as respostas se restringem a poucas coisas. Nós somos da visão de é preciso aumentar a diversidade em muitas direções, e com estratégias muitas vezes complementares. No caso da África do Sul e da Colômbia, por exemplo, ajudamos a mudar a estratégia de governo, a pensar não só em estimular o que existe, mas também em estimular o que não existe em muitas direções.

Neste sentido, quais oportunidades vocês conseguem enxergar em Minas Gerais?

Queria responder esta pergunta dentro em alguns meses, se fosse possível! O projeto começou em maio e agora temos um primeiro resultado. Muito do nosso esforço até agora foi reunir todos os dados que Minas Gerais e o Brasil coletaram e cruzar com os dados que temos sobre o mundo. Basicamente, Minas tem capacidades muito diversas, como mineração, siderurgia, metalurgia, produção automotriz, agricultura, biotecnologia, farmácia e bioenergia, por exemplo. Depois, vamos analisar o que o Estado já tem e o que não tem, mas que pode resultar particularmente factível. Mas ainda é muito cedo para falar mais do que isso. Em Minas, vamos elaborar gráficos e fazer um aprofundamento que nunca fizemos antes, passando pelos níveis de municípios, microrregiões, mesorregiões e Estado. Creio que será muito útil para o Estado na elaboração de políticas públicas para o desenvolvimento.

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