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Cultura

14h34min - 18 de Junho de 2008 Atualizado em 16h10min - 29 de Junho de 2013

Jornais mineiros do século XIX disponíveis para consulta

BELO HORIZONTE (18/06/08) - Para preservar o valioso acervo de periódicos veiculados em Minas Gerais, durante o período de 1825 a 1900, a Secretaria de Estado de Cultura de Minas Gerais, por meio do Arquivo Público Mineiro (APM) e da Superintendência de Bibliotecas Públicas/Hemeroteca Histórica, com apoio da Fapemig e da Secretaria de Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, desenvolveu o projeto Jornais Mineiros do Século XIX: digitalização, indexação e acesso.

O objetivo é disponibilizar o resultado do trabalho à população, por meio do SIA/APM – Sistema Integrado de Acesso, num primeiro momento, a partir de 23 de junho, e, posteriormente, no site da Biblioteca Pública Estadual Luiz de Bessa, onde esse acervo se juntará aos dos demais jornais do século XX, até 1945.

Dessa forma, após 200 anos do início da imprensa brasileira, pesquisadores e curiosos poderão consultar, pela internet, cerca de 70 mil páginas de 267 periódicos mineiros que chamam a atenção pelos nomes curiosos e conteúdo das publicações.

O SIA/APM é uma base informatizada que disponibiliza e facilita a pesquisa do acervo do APM, tanto na sede da instituição quanto pela internet, democratizando o acesso aos arquivos de Minas Gerais. Com o sistema, qualquer pessoa, de qualquer parte do mundo, acessa a historiografia mineira pelo site da Secretaria de Estado de Cultura (www.cultura.mg.gov.br).

Preservação

“O projeto de digitalização da coleção de jornais mineiros do século XIX vai não apenas preservar, mas dar à população efetivo acesso a um importante acervo para a pesquisa da história de Minas Gerais e do Brasil”, ressalta a secretária de Estado de Cultura de Minas Gerais, Eleonora Santa Rosa, explicando que a coleção dos jornais esteve sob a guarda do APM até o ano de 1996, quando foi transferida para a Hemeroteca Histórica, onde se encontra, atualmente.

Para o superintendente do APM, Renato Pinto Venâncio, o maior desafio tem sido a preservação deste acervo de periódicos, por conta do precário estado de conservação que ocorre, normalmente, em virtude da fragilidade do suporte de papel. Como os jornais estão microfilmados e a escassez de leitoras de microfilmes exigia que a pesquisa continuasse a ser feita através do acesso direto aos originais, a nova ferramenta do SIA/APM, por si só, já apresenta um avanço. “A digitalização desta coleção, que contou com a participação da Superintendência de Bibliotecas Públicas, contribuirá para a preservação dos originais, além de possibilitar a ampliação do acesso ao acervo”, pontua Venâncio.

O projeto

Os trabalhos começaram em janeiro de 2006, sob a coordenação técnica de Marina Mesquita Camisasca, com o objetivo final da criação de um sistema informatizado de pesquisa no qual os jornais pudessem ser consultados por meios eletrônicos. O primeiro passo foi realizar um levantamento dos jornais referentes ao século XIX e também dos microfilmes em que os mesmos se localizavam. Constatou-se que 98 rolos de microfilmes continham jornais do período desejado e que eles formavam uma coleção de 266 periódicos, produzidos em diversas cidades mineiras.

Após toda a parte técnica de reorganização dos arquivos, o material foi digitalizado, podendo ser consultado tanto no APM quanto na Hemeroteca Histórica, vinculada à Superintendência de Bibliotecas Públicas da Secretaria de Cultura do Estado de Minas Gerais. Por sua vez, o sistema informatizado de pesquisa desenvolvido para a consulta aos jornais permite que a busca seja realizada de diferentes formas. O pesquisador poderá procurar o periódico pelo nome, pela data em que foi produzido ou pela cidade onde foi impresso. Além disso, a consulta pode ser feita cruzando-se os dados. É possível, por exemplo, pesquisar exemplares do jornal O Universal somente do ano de 1826. O sistema é capaz de filtrar a informação e pesquisar somente os dados desejados. Além disso, há ferramentas que possibilitam a ampliação das imagens, o que facilita enormemente a leitura.

O acervo

Segundo pesquisa da coordenadora técnica do projeto, Marina Mesquita Camisasca, a formação da referida coleção de jornais teve início em Ouro Preto, em fins do século XIX. Trata-se de parcela da coleção original do jornalista, historiador e deputado provincial José Pedro Xavier da Veiga, fundador e primeiro diretor do Arquivo Público Mineiro. O órgão, desde a sua origem, em 1895, empenhou-se em recolher testemunhos históricos, sobretudo registros escritos, referentes ao passado do povo mineiro. O Decreto n° 860, de 19 de dezembro de 1895, que regulamentou a sua criação, definiu também que o recolhimento de fontes pela recém-criada repartição não se limitaria aos documentos provenientes da Administração Pública Estadual, mas se estenderia à esfera dos municípios. O órgão cuidou, então, de criar a figura do correspondente, pessoa que ficaria encarregada da aquisição de documentos importantes.

Várias cidades de Minas Gerais, durante o século XIX, publicaram um número significativo de periódicos. Segundo Xavier da Veiga, de 1824 a 1897 existiram, no Estado, 863 gazetas, publicadas em 118 localidades (84 cidades, três vilas e 31 arraiais). Este dado, apesar de não abarcar todo o período contemplado pelo projeto de digitalização (1825-1900), mostra que um grande número de folhas se perdeu ao longo do tempo, pois o acervo atual da Hemeroteca Histórica é formado por 266 títulos.

O primeiro periódico mineiro, Compilador Mineiro, foi veiculado em 1823. Contudo, o acervo atual não conta com esse jornal, já que a coleção quase completa desse periódico encontra-se na Biblioteca Nacional, no Rio de Janeiro, sendo talvez a única. No mesmo mês em que ele foi extinto, começou a ser publicado O Universal, folha de tendência moderada, impressa durante dezessete anos (1825-1842).

Como um diário oficial, esse jornal era responsável pela publicação dos atos governamentais, imprimindo em suas páginas, sobretudo, decretos, editais, leis da Presidência da Província e discussões das Assembléias Provincial e Geral. A coleção completa desse veículo foi digitalizada, preservando-se, dessa forma, a “memória” do governo mineiro na fase inicial do Império. Outro jornal responsável por divulgar atos governamentais foi O Correio de Minas, integrante da coleção acumulada pelo APM, hoje na Hemeroteca Histórica.

Sobre a formação dos acervos, Marina Mesquita Camisasca explica que “os documentos que formam os fundos e coleções dos arquivos devem ser considerados como o resultado do empenho de determinada sociedade em impor ao futuro uma imagem de si. Guardar determinados documentos em detrimento de outros e organizá-los de determinada forma, é um elemento da cultura política da sociedade.” Para ela, a dinâmica da formação dos acervos chega a se parecer com a da edição de um jornal, como os focados pelo projeto: a escolha das notícias não é feita de forma aleatória; a imprensa seleciona, ordena, estrutura e narra, de uma determinada forma, aquilo que elegeu como “digno” de chegar ao público.

Além dos periódicos responsáveis pela divulgação de ações governamentais, a coleção de jornais mineiros do século XIX possui, por exemplo, folhas de cunho religioso, como O Bom Ladrão, fundada no ano de 1873, em Mariana, e O Lar Catholico, veiculado na cidade de Juiz de Fora, em 1891. Além disso, o acervo atual abriga vários jornais de cunho republicano, que começaram a ser publicados na segunda metade do século XIX, como é o caso do Minas Livre, veiculado em 1891, na cidade de Juiz de Fora, com tiragem de 1.000 exemplares.

Curiosidades

Os primeiros periódicos que circularam em território brasileiro foram O Correio Braziliense – impresso em Londres –, seguido da Gazeta do Rio de Janeiro, já editada em terras brasileiras. Esses jornais, veiculados no país a partir de 1808, são fonte conhecida dos historiadores. Os periódicos sempre foram tratados como materiais de pesquisa valiosos para o estudo de uma época. Por meio deles é possível encontrar projetos políticos e visões de mundo representativos de diversos setores da sociedade, conforme ressalta Marina Mesquita Camisasca, mestranda em História e Culturas Políticas pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e coordenadora técnica do Projeto Jornais Mineiros do Século XIX: digitalização, indexação e acesso.

O primeiro jornal foi criado por Hipólito José da Costa para defender o ideário liberal, circulando entre 1º de junho de 1808 e dezembro de 1822, contabilizando um total de 175 números editados. Já naquela época, o jornal estruturou-se em seções que tratavam de política, comércio, artes, literatura, ciências e uma que abordava assuntos variados denominada miscelânea. A Revolução Pernambucana de 1817, e os acontecimentos de 1821 e 1822, que levaram à independência do Brasil, receberam ampla cobertura no Correio Braziliense.

Já o segundo periódico, criado para informar sobre a vida administrativa e a movimentação social do Reino, era uma espécie de folha oficial em que eram publicados os decretos, assim como os fatos relacionados à Família Real, além de notícias internacionais filtradas pela rigorosa censura da Impressão Régia. Esse periódico circulou de 10 de setembro de 1808 até a Proclamação da Independência (1822), tendo como editor responsável Frei Tibúrcio José da Rocha.

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