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09h00min - 16 de Junho de 2013 Atualizado em 12h03min - 01 de Julho de 2013

Título de Capital do Tropeirismo dá novo alento para o turismo de Itabira

Além de preservar tradições locais, reconhecimento alavanca economia; lei que trata do tema foi sancionada pelo governador Antonio Anastasia

Fruto de uma atividade que ganhou relevância em uma época em que o transporte de cargas no país só era feito por meio da navegação e em lombos de mulas e cavalos, o município de Itabira acaba de conquistar o título de Capital Estadual do Tropeirismo. A Lei 20.709, que trata do tema, foi aprovada pela Assembleia Legislativa, sancionada pelo governador Antonio Anastasia e publicada na edição da última segunda-feira (10) do Diário Oficial. A iniciativa contempla o município de Itabira, na Região Central de Minas, onde, até os dias de hoje, o tropeirismo preserva suas características e atrai turistas interessados em conhecer a cultura e as belezas naturais da cidade.

Segundo a secretária de Estado de Cultura, Eliane Parreiras, este título atesta os esforços do Governo de Minas de potencializar as características históricas dos municípios. “Minas Gerais possui uma diversidade cultural que deve, constantemente, ser reconhecida e, acima de tudo, resguardada. Nesse intuito, o Governo de Minas tem feito um grande esforço para que as tradições e peculiaridades de cada município não percam sua identidade e se mantenham devidamente registradas na consolidação dos valores, manifestações culturais e história do nosso povo e do nosso Estado”, ressalta.

O escritor e historiador norte-mineiro, Wanderlino Arruda lembra que o tropeirismo ganhou força nos séculos XVII e XVIII, “quando o Estado começou a ser desbravado por bandeirantes portugueses”. “Como consequência do aumento populacional, surgiram os tropeiros, viajantes encarregados de fazerem a transição de alimentos e materiais de necessidades básicas de outras regiões para as áreas de exploração de ouro e diamantes”, explica. Ainda segundo o especialista, os cavalos eram os animais propícios para esse tipo de serviço, pois outros tipos de transporte, como os carros de boi, não conseguiriam chegar aos locais devido às irregularidades dos terrenos nas zonas de exploração.

Com o tempo os tropeiros se tornaram não só transportadores de mercadorias mas, também, um sinônimo de confiança, servindo como “entregadores de recados” e, até mesmo, como negociadores. Nesse contexto, Wanderlino Arruda ressalta que o Norte de Minas ocupou posição estratégica, uma vez que parte da produção de carne, farinha e outros produtos da região eram transportados por tropeiros para as áreas de exploração de ouro e diamantes. Essa atividade fez prosperar a economia local de localidades que, hoje, se consolidaram como cidades históricas de Minas – como, Diamantina, Sabará, Ouro Preto, bem como a própria região de Itabira.

“Assim como Itabira se tornou Capital Mineira do Tropeirismo, no Norte de Minas temos o município de Matias Cardoso, que é reconhecido pelo Governo do Estado como a Capital dos Gerais. Ali está sediada a Matriz de Nossa Senhora da Imaculada Conceição, a igreja mais antiga do Estado, construída em 1670”, frisa o historiador, ao destacar o importante papel do Governo de Minas em conceder o devido reconhecimento às características históricas dos municípios mineiros.

Museu do Tropeiro

Itabira foi rota de tropeiros que se dirigiam de Ouro Preto a Diamantina utilizando-se de uma das mais importantes vertentes da Estrada Real. A passagem dos tropeiros por essas localidades fez com que muitas delas se tornassem, efetivamente, municípios. Neste contexto, destaca-se Ipoema, distrito de Itabira.

Fundado em 1893, Ipoema, cujo nome primitivo era Santo Afonso da Aliança, funcionou como entreposto comercial e fazia parte de uma espécie de corredor de escoamento de produtos agrícolas do Norte de Minas para o Rio de Janeiro, antiga capital federal. No distrito, localizado a 72 quilômetros de Belo Horizonte, está sediado o Museu do Tropeiro, criado em 2003. O local surgiu com o objetivo inicial de fazer um levantamento do patrimônio cultural e natural da Estrada Real.

Abrigado em uma casa do século XVIII, que pertenceu ao tropeiro conhecido como “Sô Neco” – considerado um dos mais populares personagens do troperisimo, segundo historiadores –, o museu conta atualmente com cerca de 580 peças, entre as quais se incluem objetos usados durante as viagens, além de documentos desses comerciantes, como certidões de casamento e livros de compra e venda.

Além de exposição fixa sobre o tropeirismo, o museu também se transformou em um espaço de convivência com múltiplas funções, sendo palco para apresentações artísticas e culturais, além de local de degustação da culinária regional. Mensalmente, nos sábados de lua cheia, o museu sedia a realização da “Roda de Viola” com apresentações do Grupo Folclórico das Lavadeiras, Estaladores de Chicote, Meninos Trovadores e Comitiva do Berrante – sempre com alusões ao tropeirismo. O museu também recebe exposições temporárias de artistas e mantém sala de multimeios onde são realizadas reuniões, exibição de filmes e documentários.

A diretora do museu, Aparecida Leite Madureira, revela que, mensalmente, Ipoema recebe cerca de 500 turistas. “Agora, com o título de Capital Mineira do Tropeirismo, Itabira abre um leque de novas possibilidades de incremento do turismo e de preservação das suas tradições culturais, propiciando a geração de emprego e renda na região”, comemora a diretora.

Alento ao turismo e cultura regional

O aposentado, Maurílio Ferreira, de 76 anos, revela sentir saudade da época em que foi tropeiro, a partir da década de 1930. “Aprendi a atividade com meus avós. Durante muitos anos trabalhamos transportando café, toucinho, feijão, arroz, milho e outros produtos da região de Itabira para Santa Bárbara, Barão de Cocais e municípios próximos a Belo Horizonte. Em viagens que chegavam a durar mais de três dias, levávamos o que produzíamos na roça e trazíamos para Ipoema produtos que aqui não existiam, como querosene, sal e macarrão”, explica o ex-tropeiro.

Na atualidade, trabalhando com a fabricação de tachos de cobre, Maurílio Ferreira considera fundamental a manutenção das tradições culturais da região. “Esse título é importante para preservar a cultura de uma época em que o povo sofria muito, embora a produção agrícola da região era mais intensa. Atualmente, apesar de vivermos em uma realidade bem diferente, com mais conforto, não encontramos mais pessoas disponíveis para trabalhar na roça. Com isso, nossas tradições estão ameaçadas. Daí a importância deste título (de Capital Mineira do Tropeirismo) para Itabira”, observa o aposentado.

Já o fotógrafo e empresário Roneijober Alves Andrade entende que a formalização de Itabira como Capital Mineira do Tropeirismo “traz boas perspectivas para o incremento do turismo e, consequentemente, da economia do município”. Proprietário da Pousada Tropeiro Real, o empresário afirma que o título concedido à cidade deverá “alavancar significativamente os negócios na região”.

“Todos os finais de semana tenho recebido turistas provenientes não apenas da Região Metropolitana de Belo Horizonte, mas, também, de várias outras cidades do Estado. Muitas pessoas vêm para Ipoema atraídos pelas belezas naturais e, também, para participar de cavalgadas na Estrada Real. Com o título de Capital do Tropeirismo, temos boas perspectivas pela frente, no sentido de continuarmos preservando nossas tradições, bem como gerando emprego e renda por meio do fomento ao turismo”, conclui Roneijober Andrade.

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