Minas por Região
Governador

12h17min - 23 de Abril de 2014 Atualizado em 12h42min

VÍDEO: Discurso do governador Alberto Pinto Coelho na entrega da Medalha da Inconfidência - Parte 2

Em discurso na cerimônia na cidade de Ouro Preto, governador destacou a importância de Minas para o desenvolvimento do Brasil

O governador Alberto Pinto Coelho participa nesta segunda-feira (21/04) da cerimônia de entrega da Medalha da Inconfidência, em Ouro Preto. Durante o evento, serão agraciadas 240 personalidades e entidades que contribuíram para o desenvolvimento de Minas e do Brasil. Em seu pronunciamento, o governador Alberto Pinto Coelho destacou o importante papel de Minas para a evolução do Brasil.

"Em tudo, Minas Gerais sempre foi primeiro o Brasil. A construção de uma cidadania integral – com plena liberdade de pensamento e de expressão política – tem sido desde sempre a mais nítida e duradoura opção de Minas. Ao longo dos séculos, cultivamos esses fundamentos e resistimos às aventuras autoritárias, quaisquer que fossem as suas origens", destacou o governador durante o discurso.

Confira abaixo a íntegra do pronunciamento do governador Alberto Pinto Coelho.

Brasileiros,

Revisitamos, neste 21 de abril, uma vez mais, as páginas vivas de nossa história. Ela começa exatamente aqui, nessas terras em que demos os nossos primeiros passos e moldamos nossa consciência.  Aqui, construímos um rígido senso de justiça e com ele também o nosso inconformismo. Daqui, oferecemos ao país que ainda se formava, promissor, o nosso caráter, a nossa lealdade, a nossa coragem. Dos picos e das serras altivas do Itatiaia e Itacolomi, ampliamos horizontes e vislumbramos, tantas vezes, a imensidão do corpo do nosso território e o imaginamos livre de qualquer domínio.

Já era Minas este país. Era Minas ainda em seus primórdios, mediterrânea e generosa, que cumpriu a honrosa vocação de acolher e aglutinar os primeiros traços da nossa  nacionalidade. Por aqui caminharam paulistas, nordestinos, estrangeiros, gente de todos os lugares. As entradas e bandeiras se embrenharam pelos vales profundos e fios d´agua caudalosos, como deste Ribeirão do Carmo, e fecundaram a terra fértil. Aventuravam-se em busca do ouro e das pedras preciosas.

Aqui se estabeleceram e se tornaram protagonistas de um longo trecho de história. Desde então, mineiros, viemos cerzindo, com convicção e paciência, a causa da liberdade. Primeiro, a visitamos no conflito dos Emboabas, que manchou de sangue as águas do Rio das Velhas e as paragens do Arraial do Caeté. Mais tarde, com a instalação das insidiosas Casas de Fundição, nesta Vila Rica de Minas, para contar o ouro e transformá-lo em barras, ganhou as ruas a fagulha incendiária da primeira grande revolta. Ao se rebelar contra decisões intoleráveis da Corte portuguesa e de seus representantes, Felipe dos Santos acabou preso, torturado e condenado à morte, às expensas da Coroa.

Mas não era o bastante: As tropas do Conde de Assumar incendiaram as casas dos rebeldes. E ruas inteiras desta cidade de Ouro Preto foram consumidas pelo fogo. Aquele se tornara, então, nos desvãos da nossa história, o primeiro gesto claro do governo português para impor obediência a todo povo brasileiro. Muitos anos de domínio, injustiças e exploração se passaram, até que cometêssemos a Inconfidência Mineira, a primeira manifestação mais ostensiva pela independência do Brasil, que se insurgia na Minas colonial.

Ainda não havíamos, àquela época, construído juntos a preciosa integração do país. As ideias libertárias da Revolução Francesa fervilhavam, sussurradas pelos cantos, por estudantes e intelectuais que voltavam de uma Europa banhada pelo iluminismo. Depois, ganharam às ruas. No nosso coração, o movimento contra a derrama dos impostos atrasados já guardava o ideal de uma nação livre e independente. Com a delação de Joaquim Silvério dos Reis, tudo foi por terra.

Companheiros conspiradores foram presos, humilhados e deserdados. Entre eles estava um alferes, modesto de posses, mas altivo em convicções e coragem, Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes. Arriscou-se ele a ser o portador de ideias ousadas, mascate que também era, e conhecedor, como poucos, do Caminho Novo. Uma ampla moldura cívica se incorporou à revolta, antes pontual, contra o domínio português.

Com a insídia, assumiu Joaquim José, integralmente, a carga de responsabilidade que cabem aos heróis, para livrar seus companheiros e semear, definitivamente a sua causa. Enforcado no campo da Lampadosa, no Rio de Janeiro, o Alferes pagou pela insurreição com própria vida e instalou-se, entre nós, como mártir e herói da liberdade. De Capitania à Província, tornamo-nos Minas Gerais. Percorremos nossa história sem deixar de lado, um só instante, a busca obsessiva pela construção nacional.

Lembro já na Primeira República, o papel histórico do presidente Afonso Pena, que em nome da cidadania e da vontade coletiva, patrocinou o rompimento com a prática de limitar à elite política o direito de escolher o candidato à presidência do Brasil. No fim da primeira década do século passado, a campanha presidencial mobilizou a população e a imprensa em torno do debate, dos direitos dos cidadãos e da conquista do voto feminino.

Mais tarde, com o “Manifesto dos Mineiros”, desafiamos o Estado Novo de Vargas e mobilizamos a vontade democrática da Nação. Soubemos dar ao Brasil, outras demonstrações desse nosso amplo compromisso com a liberdade. Juscelino o protagonizou de forma inovadora, como o presidente que iniciou a necessária trajetória para livrar o Brasil do crônico atraso, promovendo o mais espetacular salto que demos para a modernidade.

Chegaram os anos de chumbo e a longa noite de 20 anos de estado de exceção imposto pelo regime militar de 64. Os inconfidentes de Minas foram mais uma vez convocados a fazer valer sua vocação libertária. Hoje, tantos anos depois, Minas chora, solidária com os que ficaram pelo caminho, atingidos pela vilania do autoritarismo. É com este sentimento que reverenciamos cada um dos brasileiros que lutaram pela reconstrução da nossa democracia.

Nesse tempo, obrigou-nos as circunstâncias, a maior e mais bonita convergência de toda a nossa história. Marchamos ao lado dos brasileiros, que encheram as praças com o seu orgulho e os seus sonhos. Liderados por homens da dimensão de Ulysses, Teotônio, Montoro, Brizola, Lula e Tancredo Neves, caminhamos, lado a lado, por uma só causa: o Brasil e os brasileiros.

E foi assim que, paulatinamente, conquistamos a abertura, a anistia e fizemos a transição definitiva para a plena democracia. A derrota da emenda Dante de Oliveira no Congresso Nacional, que restabelecia as eleições diretas para presidente, talvez tenha sido um dos nossos mais dolorosos reveses. Foi uma batalha perdida, que, no entanto, não nos roubou qualquer esperança ou sonho. Era a hora de buscar caminho mais curto e seguro para o retorno à democracia. E assim o fizemos.

Soubemos, todos juntos, encerrar um dos mais tristes episódios de toda a nossa história, com a eleição do primeiro presidente civil após a ditadura, Tancredo Neves. Com a tragédia de sua morte, Tancredo carregou consigo os ideais de uma Nova República. O que se sucedeu depois, todos conhecemos: Enfrentamos uma difícil transição com o governo do presidente José Sarney.

Com a Assembleia Nacional Constituinte de 88, e as constituições estaduais, confirmamos o compromisso do Brasil com as instituições democráticas, resgatando o estado de direito e aprovando um modelo socialmente mais avançado. Nos anos seguintes, já consumada a primeira eleição presidencial, nossa democracia superou grave crise política, que redundou no afastamento do presidente eleito. À crise, somou-se à convulsão econômica que tomava as nossas ruas. Vivíamos, então, a maior inflação de preços da nossa história e nenhuma perspectiva de futuro.

Coube ao mineiro Itamar Franco a tarefa de engenhosamente construir a estabilidade econômica, tão sonhada pelos brasileiros. A instalamos, com Itamar e depois com Fernando Henrique Cardoso, e hoje já contamos duas décadas de vigência do Plano Real, responsável por uma nova paisagem econômica nacional. Todos esses esforços explicam os nossos temores e aflições, quando vemos a tormenta inflacionária ameaçadora e rediviva no horizonte do Brasil.

Brasileiros,

Em tudo, Minas sempre foi primeiro o Brasil. A construção de uma cidadania integral – com plena liberdade de pensamento e de expressão política – tem sido desde sempre a mais nítida e duradoura opção de Minas. Ao longo dos séculos, cultivamos esses fundamentos e resistimos às aventuras autoritárias, quaisquer que fossem as suas origens.

Essa postura diante do poder, manifestada desde o período colonial e celebrada até os nossos dias, é um dos nossos valores históricos mais importantes. São valores eternos, e convém a Minas, ao Brasil e aos brasileiros reafirmá-los sempre, porque expressam valores e fundamentos da construção de uma sociedade livre, desenvolvida e justa. Com rigorosa fidelidade às nossas tradições, procuramos sempre compartilhar com a Nação esses valores.

Por isso, ao longo da História, a Nação buscou em Minas a experiência, o equilíbrio e o saber dos nossos melhores homens públicos. Herdeiros de sólida tradição democrática, assumimos sempre a responsabilidade de lembrar ao Brasil que democracia, liberdade e paz social são compromissos do nosso passado e matéria prima essencial, permanente, para a construção do nosso futuro. É nesta posição que nos colocamos hoje diante de novos e graves desafios.

O mais urgente é o fortalecimento da Federação e da República, esmaecidas pela maior concentração de recursos e poder, de toda a nossa história, na órbita do governo central. Esta anomalia se agrava ainda mais em face de outros desarranjos nacionais, como a draconiana dívida com a União que encabresta estados e municípios, e a indefinição do novo marco regulatório sobre os royalties dos minérios.

Minas vê chegada a hora de lutar, como antes, pela restauração do pacto federativo, com uma divisão mais justa e equilibrada sobre direitos e deveres dos diversos entes federados. Carregamos a consciência de que não podemos sonhar com um novo patamar de desenvolvimento, com estados em dificuldades e prefeituras fechando suas portas.

Não posso deixar de pontuar, senhoras e senhores, o fato de que no ano passado, segundo a Confederação Nacional dos Municípios, chegamos ao absurdo de 96% das nossas cidades estarem impedidas de estabelecer convênios com o governo federal, e sobreviverem quase que unicamente dos parcos recursos do fundo de participação.

Ainda há poucos dias, ao receber a honrosa responsabilidade de governar o Estado, foram essas as diretrizes com as quais me comprometi a lutar e cumprir: Empenharemos os nossos melhores esforços em apoio determinado à Federação e à República, não apenas como instituições simbólicas, mas base fundamental sobre a qual sonhamos construir um novo país. Porque, sem Federação e sem República simplesmente não seremos uma nação capaz de acolher os sonhos de nossa gente.

Senhoras e senhores,

Mineiras, mineiros,

Amigas e amigos vindos de todos os cantos do Brasil, que nos visitam nesta data tão importante.

O sonho de Minas está mais vivo do que nunca! Queremos unir o Brasil em torno de um programa de restauração econômica, de desenvolvimento justo e sustentável, de rigorosa transparência nas relações políticas e de respeito absoluto pelos direitos da cidadania, sob o império da lei e das instituições.  Temos o dever de preservar os preciosos fundamentos da democracia e os princípios libertários pelos quais tantos deram a vida ou sofreram privações de toda ordem.

É nossa grandiosa tarefa, senador Aécio Neves, como o senhor tem defendido, deixar para as futuras gerações um país melhor, mais desenvolvido, justo e igual para todos os brasileiros. Este é o país dos sonhos dos inconfidentes e pelo qual o Alferes Tiradentes dedicou a sua vida. Este é o país com que sonharam Ulysses, Teotônio, Tancredo e tantos de nós. Precisamos honrá-lo todos os dias e fazê-lo, como antes, uma permanente e autêntica causa da nacionalidade.

Muito obrigado.

SEGOV - Secretaria de Estado de Governo de Minas Gerais

Desenvolvido por marcosloureiro.com

Cidade Administrativa Presidente Tancredo Neves

Rodovia Prefeito Américo Gianetti, 4001
Edifício Gerais, 1º andar
Bairro Serra Verde - BH / MG
CEP: 31630-901
Tel.: +55 31 3915-0262

Telefones de Contato