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Segurança / Defesa Social

13h27min - 10 de Junho de 2015 Atualizado em 13h32min

Cartas de amor incentivam alfabetização de presos da Nelson Hungria

As cartas são destinadas aos filhos, pais, mães e companheiras têm mudado a realidade de muitos sentenciados

Gil Leonardi/Imprensa MG
Presos escrevem cartas para namoradas
Presos escrevem cartas para namoradas

Em tempos de mensagens instantâneas com textos, fotos e vídeos, é difícil imaginar uma sobrevida para as velhas cartas enviadas para a pessoa amada pelos Correios. Mas, no isolamento de uma penitenciária de segurança máxima, as cartas de amor derramadas em folhas de papel ainda têm muitos poderes, inclusive o de tirar da escuridão do analfabetismo pessoas como Robson Luiz Lopes, de 30 anos de idade. Ele é um dos alunos das três turmas de alfabetização do Complexo Penitenciário Nelson Hungria, em Contagem.

Somente nos últimos dias, Robson conseguiu escrever as primeiras frases numa folha. Letra por letra, vai formando cada palavra. Em seguida soletra, torcendo para ter acertado a grafia. Ansioso, o homem, preso há cinco anos, diz acreditar que em três meses já conseguirá escrever uma carta sem precisar de ajuda. Mas ele lamenta não poder fazer isso já. Neste Dia dos Namorados, a carta que a namorada receberá foi ditada por Robson a um colega de cela.

“Fico com vergonha. Não dá pra ditar tudo o que a gente quer. Quero aprender a escrever para poder colocar na carta tudo o que eu sinto sem precisar que outra pessoa escreva pra mim. Mas eu ainda tenho medo de errar”, diz o preso.

Outros 15 alunos frequentam a sala de aula todos os dias para aprender a ler e a escrever. Além deles, dez presos aguardam a ampliação da sala de aula para que também possam ser alfabetizados. São homens de faixa etária de 30 a 40 anos, ávidos por aprender.

Há 14 anos trabalhando com educação no sistema prisional de Minas Gerais, Aureliana Miguel Dissigui se dedica a jovens e adultos que não têm escolarização alguma ou que desejam completar o Ensino Fundamental ou Médio. A experiência e a sensibilidade fizeram a educadora perceber que as cartas para a família, tão preciosas para os presos, poderiam ser motivadoras. Afinal, homens feitos carecem de um impulso extra para vencer a vergonha de começar do zero, como se fossem crianças, num banco escolar.

A professora conta que a turma da alfabetização é a mais interessada e disposta a aprender. Ela assegura que esses estudantes são extremamente dedicados, uma vez que tudo é novo pra eles. “Eles têm tanta pressa em aprender que às vezes isso até atrapalha. O que me impressiona é o cuidado que eles têm com os cadernos e com os materiais. Se você olhar, parece caderno de criança de escola particular”, diz.

Aos 64 anos de idade, Joaquim Salvador de Oliveira voltou a escrever recentemente. Ele está preso há cinco anos. Frequentou a escola apenas dos sete aos nove anos de idade e esqueceu o pouco que aprendeu. Segundo ele, o trabalho na lavoura afastou-o da escola. Aos 30 anos de idade, mudou-se para a cidade grande, mas a única oportunidade que aproveitou para retomar os estudos foi justamente no local mais improvável: a prisão.

“Quando eu recebo cartas da minha família, alguém tem que ler e escrever a resposta pra mim. Não quero mais isso. Quero poder escrever e ler as minhas cartas”, diz. Para Joaquim, a maior dificuldade é a escrita. “Faltam as letras para formar as palavras”, explica. O sentenciado garante que, ao ganhar a tão esperada liberdade quer continuar estudando. “Minha esposa reclamou porque não enviei uma carta no dia do aniversário dela. Garanti que muito em breve ela receberá um eu te amo escrito por mim”, diz.

As cartas destinadas aos filhos, pais, mães e companheiras, além do desejo de saber escrever o próprio nome, têm mudado a realidade de muitos sentenciados, segundo a professora Aurelina. Ela observa que trocar a ociosidade nas celas por horas produtivas nas salas de aula muda não só o comportamento dos sentenciados na prisão, mas também a relação com a família.

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