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Educação

14h35min - 30 de Maio de 2011 Atualizado em 14h17min - 28 de Junho de 2013

Curso de Formação Intercultural de Educadores Indígenas forma a primeira turma

BELO HORIZONTE (30/05/11) - Uma turma de 109 educadores volta para casa com o título de graduação debaixo dos braços e prontos para repassar, em escolas estaduais, o conhecimento adquirido na universidade. A formatura dos professores aconteceu na sexta-feira (27) na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), com direito a música, dança, coreografia e ainda duas cerimônias: uma no auditório e outra no gramado da reitoria. Tanta festa tinha justificativa, afinal tratava-se da primeira turma a se formar no Curso de Formação Intercultural de Educadores Indígenas, parceria entre Secretaria de Estado de Educação (SEE), Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Fundação Nacional do Índio (Funai) e Ministério da Educação (MEC).

Os formandos representam sete etnias de Minas Gerais: os Kaxixós, Krenaks, Maxakalis, Pankararus, Pataxós, Xacriabás e Xucurus-Kariris. Cada uma delas com seus costumes e tradições, que foram compartilhados no gramado da reitoria da UFMG. Antes da formatura costumeira, da qual tantos reitores da Universidade já participaram, cada povo fez sua própria celebração. Formandos e parentes se reuniram para cantar e dançar em homenagem aos novos graduados. Uma das lideranças da etnia Maxacali, Maria Diva, explicou que a dança é uma forma de prestar respeito à dedicação dos índios que fizeram o curso. “O primeiro canto que fizemos é o canto do gavião, é um canto muito forte. Como eles fizeram esse curso, se dedicaram, eles merecem essa dança de agradecimento. Agora eles têm que falar para as crianças e incentivar que elas também estudem”.

Apesar das diferenças entre as etnias, compartilhar o conhecimento nas aldeias é um ponto em comum entre todas elas. Duteran Pataxó, da etnia Pataxó, tem apenas 25 anos e uma responsabilidade grande como professor. Além de educar, ele pretende provocar os jovens a se interessarem pela cultura indígena. “Nós estamos aqui porque fomos escolhidos pelo nosso povo e se eles nos escolheram nós temos essa responsabilidade. É importante conscientizar nossos jovens para que eles estudem e continuem na aldeia, que levem sempre o conhecimento que eles adquirirem de volta para o nosso povo”, defende.

O conhecimento adquirido durante o curso não se limita às disciplinas tradicionais. Os índios participantes foram incentivados a desenvolver habilidades relacionadas à sua própria cultura nas escolas estaduais. Nas disciplinas, os professores indígenas tratam com seus alunos temas como o uso do território e aula de cultura. “Ensinamos músicas, danças, a própria língua, artesanato, levamos os mais velhos para contar histórias na sala de aula, falamos de colheita, entre outras coisas”, conta Ranison de Oliveira, da etnia Xacriabá. Segundo a coordenadora do curso pela UFMG, a professora Maria Inês de Almeida, cada etnia teve um percurso específico ao longo da graduação. “Esse curso foi o tempo todo experimentado e pensado para atender a diversidade cultural. Cada escola indígena se constrói de acordo com a cultura, cada professor tem a liberdade de pensar a forma de ensinar e escrever”, explica. 

Trajes de Gala 

Durante a cerimônia de graduação, todos os índios fizeram questão de se trajar para a ocasião de gala, ou melhor, se pintar. A turma de graduandos não aderiu aos ternos e vestidos das típicas formaturas universitárias, mas usaram no corpo as cores de celebração, que utilizam nas tribos nos momentos mais especiais. Duteran Pataxó, por exemplo, pintou o rosto em vermelho, com detalhes em preto, tons bastante adequados ao momento. “Minha pintura é de alegria. Cada um faz uma pintura diferente, representando o sentimento dele naquele momento e o meu sentimento é de alegria. Essa formatura é mais uma batalha vencida”, explica. 

Já para o Xacriabá Ranison, a pintura corporal tem ares ainda mais importantes. Primeiro por conta da cultura de sua etnia, mas também porque foi justamente o tema de sua monografia na graduação. Ele estudou as pinturas corporais dos Xacriabás e chegou até a fazer um pequeno filme sobre a tradição, aproveitando as aulas de audiovisual e artes na Universidade. “A pintura corporal dos Xacriabás, assim como a língua, ficou esquecida por causa das guerras com os brancos por causa de demarcação de terra, por isso eu resolvi estudar. A mesma pintura que se usa no corpo, usa-se também num objeto, numa casa”, explica. Não foi à toa, portanto, que Ranison escolheu a dedo a pintura que utilizou na formatura. “É uma pintura de passagem. Quando o jovem vai de uma situação para outra ele usa essa pintura. Eu estou usando hoje porque vamos nos formar, porque é uma passagem”, completa. 

A primeira cerimônia de formatura aconteceu no gramado da reitora da UFMG, mas depois os índios passaram por uma solenidade semelhante à de outras graduações. No auditório da reitoria, os graduandos receberam os canudos em cerimônia que contou com a presença da secretária-adjunta da SEE, Maria Ceres Pimenta Spínola Castro, o reitor da UFMG, Clélio Campolina, o ex-reitor da Universidade, Ronaldo Pena, entre outros. Na ocasião, foi apresentado um filme sobre a caminhada dos estudantes no curso e um representante de cada etnia fez um discurso de agradecimento. 

Curso 

O Curso de Formação Intercultural de Educadores Indígenas teve duração de cinco anos e visou à formação de professores para o trabalho com os Ensinos Fundamental e Médio nas etnias do Estado. Os estudantes participaram de 10 módulos presenciais, na UFMG, e 10 etapas intermediárias, que aconteceram nas aldeias. Os encontros presenciais foram realizados nos meses de maio e setembro e os gastos com a hospedagem custeados pela SEE. Os professores que integraram essa primeira turma participaram das turmas de formação em nível médio oferecido pela Secretaria de Estado de Educação, em parceria com a UFMG, entre os anos de 1996 e 2008. Nesse período, foram habilitados 213 professores em nível médio nas sete etnias do Estado que contam com escolas indígenas, eles já atuam como contratados pela SEE.

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