Minas por Região
Segurança / Defesa Social

10h04min - 15 de Setembro de 2015 Atualizado em 10h10min

Presídio de Ribeirão das Neves garante direito de estudo e trabalho a presos segregados

Na instituição, dentro dos muros do presídio, estudam 116 presos e já existe uma fila para novas turmas que serão abertas no ano que vem

Carlos Alberto/Imprensa MG
 E.E. Cesar Lombroso dá oportunidade para presos que ficarão mais tempo no presídio
E.E. Cesar Lombroso dá oportunidade para presos que ficarão mais tempo no presídio

Especializado em abrigar presos condenados ‘de seguro’ da Região Metropolitana de Belo Horizonte, o Presídio Inspetor José Martinho Drumond, em Ribeirão das Neves, começou neste semestre a oferecer aulas nas três salas e no espaço multimídia da recém criada Escola Estadual Cesar Lombroso. Na instituição, dentro dos muros do presídio, estudam 116 presos e já existe uma fila para novas turmas que serão abertas no ano que vem.

Os presos de seguro são, na maioria, autores de crimes sexuais, alvos do código estigmatizante que prevalece na população carcerária, e os chamados detentos de ‘seguro de guerra’, isto é, ameaçados de morte por outros criminosos. Na maioria das unidades prisionais, além da segregação em celas ou alas específicas, esses presos são excluídos de ambientes e de atividades comuns de ressocialização.

Atualmente, no Presídio Inspetor Martinho Drumond, quase todos os condenados são ‘de seguro’ e representam 60% da lotação do estabelecimento. O restante são presos provisórios, que aguardam julgamento e tendem a ser encaminhados para outras unidades para cumprir pena, caso não sejam postos em liberdade.

Com a especialização em condenados ‘de seguro’, a E.E. Cesar Lombroso dá oportunidade para presos que ficarão mais tempo no presídio, reduzindo o índice de alunos que interrompem os estudos por causa de transferência para outras unidades ou por conquista de alvará de soltura.

Da mesma forma, as 150 vagas existentes de trabalho entre os muros do Martinho Drumond são ocupadas por condenados de seguro. São vagas na oficina mecânica, na fábrica de blocos, entre outras unidades produtivas.

Funcionamento

A E.E. Cesar Lombroso tem 12 professores, diretor e vice-diretor, uma pedagoga, uma secretária e funciona em três turnos, da alfabetização ao ensino médio.

A diretora de Ressocialização da Martinho Drumond, Michelle Lopes, diz que o engajamento dos alunos prova que sempre vale a pena investir na recuperação dos detentos. “Preparar e educar é garantir uma chance maior de eles mudarem de vida depois do cumprimento da pena”, argumenta Michele.

No presídio de Ribeirão das Neves, contudo, não há apenas presos por crime sexual estudando. Alguns deles atuam ao lado dos professores da E.E. Cesar Lombroso. Como Mário Sérgio Hilário, de 46 anos de idade, que se tornou uma espécie de monitor de matemática. Ele tem curso superior na área e admite que é a primeira vez, depois de três anos e quatro meses de cumprimento de pena, que faz algum tipo de trabalho no presídio.

Mário diz que sente uma satisfação por ajudar outros presos e um alívio por evitar a ociosidade no dia a dia, “Está sendo sensacional! Não tenho palavras para expressar minha satisfação. Aqui na escola, eu me sinto fora do ambiente prisional, parece que estou em liberdade”, afirma.

É a mesma sensação que expressa Adrian Grigorcea, de 50 anos. Ele é norte-americano, formado em Administração de Empresas e faz monitoria nas aulas de inglês, com ênfase na pronúncia e no uso corrente da língua.

Adrian também ajuda em outras atividades da escola, como o artesanato. Ele não é autor de crime sexual e tampouco está recolhido a cela de seguro. Segundo ele, há um ambiente de respeito nas salas de aula.

“Estou adorando poder trabalhar aqui dentro, no tempo que estou aqui ocupo minha mente com outras coisas e é muito gratificante se sentir útil pra alguém. Os professores também são excelentes e o nosso relacionamento com todos é de muito respeito”, conta o monitor.

Força de vontade

Com cinco anos de trabalho no sistema prisional, a supervisora da escola, Lúcia Pereira, diz que tem muita tranquilidade no relacionamento com os presos. Segundo ela, o aprendizado às vezes é difícil para alguns que interromperam os estudos por muito tempo, o que acaba sendo compensado pela vontade de aprender.

“Todos chegam aqui com muita sede de aprendizado e se dedicam às aulas e atividades. Neste primeiro mês de funcionamento, já é possível ver claramente os avanços. Principalmente os presos dos anos iniciais e da alfabetização. Tinha aluno que não pegava no lápis e que hoje já está escrevendo”, conta a supervisora.

Para alguns, voltar, depois de muitos anos, ao banco escolar, justamente dentro de um presídio, dá à educação um valor que não reconheciam quando estavam em liberdade.

Carlos Henrique Martins, de 33 anos, aluno do 1º período do ensino médio, lembra que entrou no presídio com três livros que tinha em casa e há não os lia. “Ao entrar numa cela para cumprir 10 anos, eu pensei que precisava levar o livro para ser meu companheiro. Hoje eu sei que só a educação muda as pessoas e o mundo. Com ignorância não chegamos a lugar nenhum”, afirma Carlos Henrique.

Também no 1º período do ensino médio, Jefferson Rodrigues, 26 anos, também destaca a oportunidade de colocar os estudos em dia. “Nós que não tivemos a oportunidade de terminar os estudos lá fora, temos muito tempo aqui dentro para refletir nos nossos erros e aproveitar para fazer algo de útil pra nossa vida. Já que estamos presos, pelo menos aproveitamos esse tempo para estudar pra quando sairmos, estarmos melhores do que quando entramos”, diz.

SEGOV - Secretaria de Estado de Governo de Minas Gerais

Desenvolvido por marcosloureiro.com

Cidade Administrativa Presidente Tancredo Neves

Rodovia Prefeito Américo Gianetti, 4001
Edifício Gerais, 1º andar
Bairro Serra Verde - BH / MG
CEP: 31630-901
Tel.: +55 31 3915-0262

Telefones de Contato