Minas por Região

Pronunciamento

20h30min - 12 de Setembro de 2012 Atualizado em 11h27m

Pronunciamento do governador Anastasia durante entrega da Medalha Presidente Juscelino Kubitschek

12 de setembro de 2012 – Diamantina – Minas Gerais

Mineiros de Diamantina

Meus concidadãos de todas as Minas,

Senhoras e senhores,

Retorno a Diamantina, neste setembro florido de seus ipês, para render, em nome de nosso povo, as homenagens devidas a Juscelino. Os grandes homens revelam, na evocação de seu nome, os méritos e as virtudes, a inteligência e a solidariedade para com os outros.

Os maiores, entre os grandes, sempre acentuam, em sua personalidade,  a razão e a emoção que predominam na formação de seu próprio povo. Juscelino foi Minas. Nele estavam a alegria e o amor ao ato de viver, que foi o sumo da alma do velho arraial do Tejuco; a meditação, que marca o nosso convívio cotidiano com o mistério, e a disposição permanente para o trabalho.

Para Juscelino, todos estes penedos, escurecidos pela cinza dos milênios, eram mais do que a dura elevação da rocha. Neles via os metais de sua tessitura convertidos em futuro, nas grandes e modernas cidades; o Brasil cortado de amplas e extensas vias, na ligação de todos os pontos cardeais; os campos cultivados e segados com máquinas construídas com a nossa inteligência e os nossos braços. Ele via o povo alegre, solidário, com saúde, educado e instruído, sem desigualdades sociais, a não ser aquelas que resultam do talento e do esforço do trabalho honrado.

Juscelino foi o nosso povo, caldeado dos muitos sangues e de intensas emoções, doces e amargas que fazem a alma dos homens; povo crescido junto às águas dos grandes rios e nas margens dos riachos magros; curtido ao sol das altas serras e das colinas suaves; dos chapadões extensos, pausados de suas várzeas e furnas; povo de mineradores e de pastores, de lavradores e pensadores. Quando evocamos Juscelino, nós o vemos como legião de mineiros, o rosto moreno, vincado das linhas marcadoras do caráter, do sofrimento e de esperança.

Ao lembrar o grande diamantinense, quero fazer o elogio de nossa gente, ao longo destes mais de trezentos anos de História. A História pode ser rica, sendo longa ou curta, se for densa. Ainda hoje marcam a experiência humana os dez séculos, anos em que Jaspers delimitou a idade axial, do oitavo antes de Cristo ao segundo de nossa era, em que a razão se despertou para transformar o mundo. A História pode ser ainda mais rica, em sua densidade: nos últimos três séculos, construímos, a partir das encostas deste Espinhaço Central, uma civilização peculiar, a civilização mineira.

Há, a nosso respeito, juízos falsos e apressados, entre eles o de que a nossa economia, depois do ouro, sempre foi frágil, e de que perdemos, na mera agricultura de subsistência,  o século 19, ocupado principalmente por São Paulo. Minas  que sustentara a economia portuguesa, com os diamantes e o ouro, durante os setecentos, não esmoreceu nas décadas seguintes.

A exaustão das jazidas, seguida da Diáspora provocada pela repressão contra os Conjurados de 1789, impôs o intervalo moroso até a independência. Mas, bem antes que São Paulo se tornasse o grande centro manufatureiro, com a imigração européia, empreendedores mineiros construíram aqui, no século 18, o que foi possível construir.

Vejam os senhores o quanto foi importante esta região de Minas para o seu desenvolvimento. No Serro nasceram Teófilo Ottoni e seus irmãos e, em seguida, João Pinheiro, e, em Diamantina, já no século 20, Juscelino. A primeira estrada macadamizada do Brasil foi construída por Mariano Procópio, mas a primeira via carroçável foi aberta por Teófilo Ottoni, entre Filadélfia, a cidade que ele criou – e hoje tem seu nome – e o porto de Santa Clara, no Mucuri.  Seu irmão, Cristiano Ottoni, além de participar da Companhia de Colonização do Mucuri, foi o grande engenheiro ferroviário, responsável pela extensão da  Estrada de Ferro Central do Brasil, ligando o Rio ao centro de Minas e a São Paulo, vencendo, com sua competência, os duros obstáculos da Serra do Mar.

Há, assim, uma continuidade na visão empreendedora e nacionalista dos homens desta velha Comarca do Serro do Frio. Alguns anos mais tarde, Minas se destacaria com suas fábricas de tecidos, quando essa atividade era ainda considerada “a mãe das indústrias”, e outros empreendimentos importantes. Alguns deles, bem mais antigos, como o da Fábrica de Ferro do Morro do Pilar, não prosperaram; outros, como o da Fundição de Jean de Monlevade, em São Miguel do Piracicaba, tiveram sua importância na fabricação de ferramentas agrícolas, antes importadas.

A produção de panos – que nos havia sido vedada pelo alvará de 1785 – estimulou o desenvolvimento das cidades, ao criar empregos duradouros e pagar salários fixos. É importante relembrar que, salvo as crises acidentais, sempre estivemos na vanguarda do desenvolvimento.

Um ano depois de construída a primeira usina hidrelétrica em Appleton, em Winsconsin, nos Estados Unidos, aqui bem perto de Diamantina, em 1883, no Ribeirão do Inferno, o engenheiro Artur Thiré espichava a primeira linha de transmissão de energia da América Latina. Com dois quilômetros de extensão, os fios levavam a eletricidade produzida por dois dínamos, às instalações de uma extração de cascalho diamantífero à jusante.

Seis anos mais tarde, Bernardo Mascarenhas inaugurava, em Juiz de Fora, a primeira usina hidrelétrica da América Latina, em Marmelos, domando a corrente do Rio Paraibuna.

Hoje, a Cemig, na confirmação desta vanguarda, opera a maior rede de transmissão e distribuição de energia elétrica em nosso país, e é considerada uma das empresas de energia mais bem administradas em todo o mundo.

Quero, ao lembrar Juscelino, homenagear outros mineiros de grande visão que transformaram a nossa terra, e fizeram de Juiz de Fora, na então região de pequenas e médias propriedades agrícolas da Zona da Mata, o mais ativo centro industrial brasileiro na segunda metade do século 19.

Começo lembrando  Mariano Procópio Ferreira Lage, nascido em Barbacena,  e a sua iniciativa de abrir a primeira estrada pavimentada no Brasil, a “União e Indústria”, ligando Juiz de Fora a  Petrópolis, e, dessa forma, ao Rio. Isso significava uma comunicação permanente por veículos com rodas, a tração animal, entre o interior de Minas e o litoral, vencendo os obstáculos poderosos da Serra do Mar. Antes da estrada, a viagem só era possível a cavalo.  Em diligências puxadas por muares, os 144 quilômetros entre Petrópolis e Juiz de Fora eram vencidos em 12 horas – um avanço considerável na época.

A inauguração da rodovia, em 1861 – depois de sete anos de trabalho – pode ser considerada como o marco decisivo para a industrialização de Minas. Acostumados às estradas de hoje, não temos idéia de quanto o desenvolvimento necessita de infraestrutura de transportes. O desenvolvimento econômico da Costa Leste dos Estados Unidos se deveu aos portos de seu litoral. O transporte de uma tonelada de aço de Estocolmo a Filadélfia custava muito pouco, porque se fazia sobre o mar. O nosso caso é idêntico. Não tínhamos mercado para os nossos produtos. Mesmo muito mais próximos do litoral, os paulistas também sofreram essas dificuldades. O transporte de uma tonelada de aço da Fábrica de Ipanema até o porto de Santos custava 38 mil réis daquele tempo; o frete marítimo de uma tonelada de aço vinda de Liverpool não custava mais de onze mil réis.

Os mineiros que, muito cedo, foram produtores de carne suína e laticínios, não tinham como levar, a bom preço, toucinho, queijo e manteiga para o mercado do Rio de Janeiro: o transporte marítimo tornava a manteiga européia e o bacon inglês artigos muito mais baratos do que nos custava o transporte em lombo de burro.

A descontinuidade administrativa da Província, durante o Império, com os presidentes provinciais nomeados pelo governo central - e que duravam poucos meses no cargo - dificultou o desenvolvimento de nossa terra, mas não o impediu. A criação da Escola de Minas de Ouro Preto, em 1876, nos trouxe um grande impulso, com a formação de engenheiros metalúrgicos e geólogos que iriam se destacar, em Minas e no Brasil, não só em sua especialidade, mas como animadores do progresso tecnológico.

A República, com governadores eleitos e  vontade política nova, assegurou-nos a entrada no século 20. A transferência da capital não foi um capricho dos que a decidiram,  como o governador Affonso Pena, o primeiro a ser eleito pelo povo mineiro. O século que chegava, sob o vigor do domínio da natureza pela ciência e pela tecnologia, dava novas dimensões à Humanidade e reclamava uma capital  coerente com a nova época.

Homem desse tempo foi o Presidente João Pinheiro da Silva, um dos grandes republicanos mineiros, nascido aqui bem perto, no Serro, duas vezes governador de nosso Estado. Ainda em 1890, aos 29 anos, foi nomeado para o cargo, na sucessão de Cesário Alvim, de que era vice-governador, e,  em 1906, eleito diretamente pelo povo mineiro. Ele sempre se preocupou com o desenvolvimento da agricultura e da indústria em nosso Estado. Foi um empreendedor, ao criar a Cerâmica de Caeté, a mais moderna do país em seu tempo, que produzia tijolos duros e refratários, usados nos primeiros alto-fornos do Estado.

Nos dois escassos anos em que governou Minas, antes de morrer, no poder,  aos 48 anos, criou a Fazenda Modelo da Gameleira – germe do que seria pouco depois, pelo gênio também empreendedor de Artur Bernardes, a Escola de Agronomia de Viçosa, e estruturou o ensino primário público. Foi um dos pioneiros de nosso desenvolvimento industrial.

Quero também recordar  Israel Pinheiro, que herdou do pai a vocação de fazer. Como secretário de Benedito Valadares, criou a Cidade Industrial de Contagem; foi, por incumbência de Getúlio, o incorporador da Cia. Vale do Rio Doce e seu primeiro presidente; escolhido por Juscelino, construiu Brasília, em pleno e despovoado planalto central.

Minas, por suas convicções libertárias, sempre foi combatida pelas oligarquias conservadoras; pelo seu nacionalismo intransigente, já em l842, enfrentou os interesses estrangeiros,  quando a Revolução do Serro, chefiada por Teófilo Ottoni e José Feliciano Pinto Coelho, se opunha, com os paulistas de Sorocaba, à renovação do contrato comercial do Brasil com a Inglaterra, de claro conteúdo colonialista.

Diamantinenses,

Nos cinco anos em que governou Minas, mesmo sitiado pela situação política nacional conturbada pela irada oposição ao Presidente Vargas, Juscelino prosseguiu na política de desenvolvimento de Benedito Valadares e do Plano de Recuperação do governo Milton Campos, dando-lhes o impulso de seu próprio espírito criador. Foi assim que concentrou sua atenção na infraestrutura de transportes e na produção de energia elétrica. Sem carvão mineral, sem petróleo e, pelo conhecimento geológico da época, sem depósitos exploráveis de gás, Minas só podia contar com seus grandes rios, na produção de eletricidade.

Assim, tratou de criar o instrumento empresarial necessário, com a Cemig,  companhia de economia mista, sob controle acionário e administrativo do governo do Estado.

Assumindo o governo de Minas no mesmo dia em que Vargas reassumia o governo da República, os dois programas de desenvolvimento se cumpriram em notável entendimento. Em Minas, Juscelino ensaiaria o grande salto da economia brasileira, ocorrido em seu qüinqüênio presidencial. O eixo propulsor seria o mesmo, de produção acelerada de energia hidrelétrica, ao lado das operações da Petrobrás e da abertura das grandes rodovias no vasto e virgem interior do território nacional. A veloz construção de Brasília é um símbolo de seu dinamismo. O Brasil se desenvolveu como um todo, sem que houvesse qualquer privilégio para Minas.

As regiões menos desenvolvidas, como o Nordeste e o Centro-Oeste do país, foram as mais beneficiadas, com a fertilização de suas terras sáfaras e a transformação do cerrado bruto em planícies verdes e ricas.

A criação da Sudene trouxe àquela região o ânimo que lhe faltava, embora o regime militar a tenha esvaziado de seu sentido libertador e igualitário. Desta forma,  o desenvolvimento brasileiro dos últimos 50 anos se deve a Minas e a Juscelino, enfim, a estas serras diamantinas, onde, em um dia de setembro ensolarado e florido, como o de hoje, um menino nasceu, para, com as nossas razões históricas, dar outro destino ao Brasil.

Por este motivo, nos reunimos nesta data festiva, novamente, em Diamantina, para homenagear tantos mineiros e brasileiros que, cada um a seu modo, tem contribuído, e muito, para a nossa prosperidade.

A todos os agraciados os nossos cumprimentos e agradecimentos. Da mesma forma, o nosso reconhecimento ao Senhor Presidente do egrégio Tribunal de Justiça de Minas, orador oficial desta cerimônia, que representa a austeridade e respeitabilidade de nosso Judiciário, exemplo para toda a nação.          

Somos um Estado em acelerado desenvolvimento econômico e industrial, e assim continuaremos a ser, graças aos homens que nos precederam e reuniram a ousadia econômica aos compromissos com a liberdade e a soberania de nosso povo. Ao homenagear Juscelino e todos os agraciados, a eles levamos o nosso preito de reconhecimento de nosso governo e a homenagem de todo o povo mineiro.

Muito Obrigado.   

SEGOV - Secretaria de Estado de Governo de Minas Gerais

Desenvolvido por marcosloureiro.com

Cidade Administrativa Presidente Tancredo Neves

Rodovia Prefeito Américo Gianetti, 4001
Edifício Gerais, 1º andar
Bairro Serra Verde - BH / MG
CEP: 31630-901
Tel.: +55 31 3915-0262

Telefones de Contato