Minas por Região

Pronunciamento

13h32min - 26 de Outubro de 2012 Atualizado em 11h27m

Pronunciamento do governador Antonio Anastasia durante a entrega da Medalha Santos Dumont

26 de outubro de 2012 – Fazenda Cabangu – Minas Gerais

Minha primeira palavra deve ser de agradecimento pelas palavras sempre lúcidas e instigantes do eminente orador oficial desta cerimônia, nobre Procurador Geral de Justiça, Alceu Torres, aqui representando o nosso Ministério Público Estadual, a quem cumprimento pelo êxito em sua profícua administração, que caminha para a sua fase final.

Da mesma forma, cabe-me agradecer a presença e cumprimentar todos os agraciados nesta solenidade, cada qual reconhecida personalidade em seu setor de atuação profissional, que recebem, aqui, a gratidão de todos os mineiros por seu empenho a favor de nossa terra mineira!

Mineiros e amigos de Minas,

Não há parcela de nosso solo que não seja sagrada, pelo amor de seu povo à pátria brasileira. Em cada paisagem há o mesmo e forte sentimento, afetuosa integração entre a transcendência e o chão, entre o sonho e as rochas, entre o amor, a razão e o trabalho.

Mas se todas as nossas regiões são sagradas, algumas tiveram acrescido privilégio da História, como esta Mantiqueira. De seus pontos altaneiros podemos ver, na amplidão, o horizonte nacional. E admirar como algumas centenas de brasileiros, em três séculos, foram capazes de escalar as outras serranias, vadear os rios, vencer os chapadões e nos legar um continente como lar.

As montanhas incitam à liberdade, na leveza do ar, na proximidade das nuvens, que costumam descer a seus penedos, dando ao observador a sensação de navegar nos céus. É assim que deve ter sentido Leonardo da Vinci, ao ver, no Monte Cécero de sua Toscana, a plataforma para o voo do engenho que imaginara, o Grande Pássaro, como registrou em seus escritos:

“Levantará o primeiro voo o Grande Pássaro, sobre o dorso do magnífico Cécero, enchendo os céus de estupor, ocupando com sua fama todos os escritos, e glória eterna ao ninho em que nasce”.

Glória eterna ao ninho em que nasce. O grande pássaro mecânico, tal como o concebera antes Da Vinci, pode ter sido montado e ter o primeiro voo no solo plano de Bagatelle, mas o seu verdadeiro ninho foi aqui.

A montanha é a aspiração da liberdade, a fonte de todos os sonhos. Voar, como voam os pássaros, sempre foi, por tantos milênios, inalcançável esperança de liberdade para o homem, que a mitologia registrou e o mineiro de Cabangu fez cumprir.

Vejam os senhores como a tecnologia realiza milagres espantosos. Adam Smith, o grande pensador inglês do passado, ao refletir sobre a mecânica prática, diz que a evolução das máquinas se faz na continuada eliminação das engrenagens dispensáveis. Hoje, o sonho do homem, que o mito transferiu a Dédalo e a Ícaro, de dar ao corpo asas artificiais, se realiza com instrumentos singelos, como as asas-deltas e os paraquedas retangulares.

Mas isso só foi possível com o avião de Santos Dumont, que incitou o estudo continuado da aerodinâmica e a eliminação das engrenagens supérfluas para a possibilidade do voo autônomo do indivíduo. O voo do mais pesado do que o ar, mediante a propulsão a motor, levou à doma do vento pelo corpo, mediante as asas leves.

Senhoras e Senhores,

Santos-Dumont foi um mineiro autêntico, com o pai nascido em Diamantina, e a mãe uma jovem de Ouro Preto. Nele, mais do que o grande talento de autodidata, se destaca o compromisso humano.

Como alguns – e não muitos – privilegiados pela fortuna familiar, soube usá-la em benefício dos outros, e, em seu caso, investindo-a nos estudos e experiências aeronáuticas. Quando, em recompensa ao seu êxito, recebeu vultosos prêmios em dinheiro, distribuiu-os entre os seus auxiliares e entre pobres de Paris.

Nada se faz sem ousadia. Ao contrário dos estereótipos, que nos desenham como tímidos e acanhados, nós, mineiros, sempre soubemos ousar. Talvez confundam a modéstia que se revela nos hábitos austeros e na economia de palavras, com o medo à aventura e ao risco. Não é bem assim.

A História nos fez, desde a ocupação, atrevidos desbravadores não só da natureza, mas também do espírito. Para refrear essa ousadia, parte de nossa gente se dedicou à agricultura e ao pastoreio, atividades que dependem dos ciclos naturais do tempo, soberanos árbitros do sucesso e do malogro. O agricultor planta, o pastor cuida dos rebanhos, mas o minerador, em lugar de plantar as sementes, vai buscá-las no ventre da Terra - duras, estéreis, eternas e brilhantes.

Essas duas razões de Minas podem ser encontradas na origem e no destino de Santos Dumont. Nosso ouro e nossos diamantes atraíram o joalheiro francês François Dumont, avô do inventor, que chegou a Diamantina no mesmo trecho do século 19 em que emigrou para o Serro, ali tão perto, o marceneiro tcheco Jan Kubitschek, bisavô do presidente Juscelino.

O pai de Alberto, Henrique Dumont, nasceu ali, estudou e se formou na França, e iniciou sua vida de engenheiro em Ouro Preto, antes de chefiar a construção da estrada de ferro, no trecho que compreendia a subida da Mantiqueira, de Juiz de Fora a Barbacena. Em Ouro Preto, o diamantinense Henrique Dumont se casou com a ouro-pretana Francisca, filha do comendador Francisco de Paula Santos, considerado então o homem mais rico da antiga capital de Minas.

Como as coincidências costumam ter raízes, podemos concluir, com humor, que havia uma razão telúrica para que Juscelino amasse tanto voar.

Senhoras e senhores,

Estamos, nesse tempo febril, mais do que nunca na História, conduzidos pela tecnologia. O homem só deixou o paleolítico mediante a técnica, ainda que a mais primitiva.

Desenvolveu-se, a partir de então, a aliança miraculosa entre a mente, as mãos e a natureza, a fim de garantir a sobrevivência da espécie e a sua inteligência. O ato de pensar e o ato de fazer constituíram o binômio interativo, para que se desenvolvesse o que hoje chamamos tecnologia.

Com isso, descobrimos a ferramenta, mas também a arma; aprendemos a cultivar e a construir os abrigos externos às grutas, para dar gênese às cidades, nas quais se tornou mais fácil enfrentar as intempéries da natureza e desenvolver o que chamamos civilização.

A tecnologia, no entanto, terá que se submeter à razão política, que a modere e a oriente para servir apenas aos homens, e não para dizimá-los, como sempre ocorreu, e hoje ocorre ainda mais, nos conflitos bélicos, com as poderosas armas de destruição. A aeronáutica, para a qual, mais do que ninguém, contribuiu Santos-Dumont, é a culminância desse conflito ontológico da técnica. O desenvolvimento das máquinas voadoras, com os foguetes e as sondas espaciais, tem permitido ao homem conhecimentos antes inimagináveis, mas, ao mesmo tempo, servem para o aprimoramento de armas apocalípticas.

De um lado, a técnica nos protegeu como espécie, tornando-nos os senhores da vida animal; do outro, com o poder, ela nos impeliu ao egoísmo pessoal e de clã, com o ódio ao outro, que se expressa, ainda em nossos dias, na diabólica prática do racismo e dos preconceitos, pelas sociedades nacionais.

É dessa forma que, mediante a ameaça da força e as invasões militares, certos países se acham no direito de submeter os outros aos seus desígnios e interesses. O dever dos humanistas é dar à ciência, e ao poder que ela confere, os mandamentos da ética, para que a inteligência, retornando ao misterioso milagre de sua eclosão, busque servir apenas à alegria da vida solidária, e não à opressão e à morte.

Santos-Dumont, ao contrário de outros que se dedicaram ao desenvolvimento da aviação, queria que os seus esforços servissem à paz, e procurou impedir que as aeronaves fossem utilizadas na guerra. Mas os seus sentimentos patrióticos fizeram-no, segundo alguns biógrafos, sugerir ao governo brasileiro que procurasse desenvolver, no país, indústria aeronáutica dedicada à defesa.

Senhoras e senhores,

Nós nos reunimos mais uma vez nesta bela cidade, que homenageia, com seu nome, um dos maiores brasileiros da História, nascido nestas montanhas, para reafirmar os nossos compromissos com a liberdade soberana do povo brasileiro, que só o saber, o domínio da tecnologia, a solidariedade, o trabalho, o desenvolvimento e a força podem assegurar.

O sonho de voar de Santos Dumont encontrou amparo no sonho ensandecido pela Liberdade de Tiradentes e depois serviu de inspiração para o sonho tornado realidade de Juscelino pelo desenvolvimento e progresso.

São estes sonhos que marcam Minas e os mineiros e servem à Pátria!

Muito Obrigado.

SEGOV - Secretaria de Estado de Governo de Minas Gerais

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