Minas por Região

Pronunciamento

18h41min - 25 de Outubro de 2013 Atualizado em 11h27m

Pronunciamento do governador Antonio Anastasia na entrega da Medalha Santos Dumont

25 de outubro de 2013 - Santos Dumont - Minas Gerais

Prezados amigos de Santos Dumont, e demais convidados, de todo o Estado, a este encontro cívico,

Senhoras e Senhores,

A evolução da Ciência e da Tecnologia, como tantos outros aspectos de nossa formação, foi afetada e influenciada pelo período colonial, e se confunde, de certa forma, com a história da luta pela liberdade em Minas Gerais.

Enquanto os conquistadores castelhanos, apesar de terem dizimado as civilizações pré-colombianas, fundaram sua primeira Universidade, a de Santo Tomás de Aquino - atual Universidad Autónoma de Santo Domingo - na ilha de Españiola, em 1538, e a primeira gráfica do Novo Mundo, na Cidade do México, apenas um ano depois, em 1539 – em nosso país tivemos que esperar quase 300 anos, para que os primeiros jornais fossem impressos, nas máquinas da Imprensa Régia, instalada por ordem do Rei Dom João VI, no Rio de Janeiro, em 1808.

No Brasil Colônia – principalmente nas regiões voltadas para a extração de riquezas, como o ouro e os diamantes - eram crimes - e desafiantes atos de rebeldia - aprender, pensar, e fazer. A mera posse de um livro condenado pela censura portuguesa - até mesmo a Bíblia só podia ser lida em latim e era proibida sua tradução para a linguagem vulgar - levava o infrator a ser processado pela Inquisição, e a sofrer penas que podiam levar à excomunhão, à prisão e ao degredo. Se a posse e a reprodução de impressos eram desestimuladas, tolhidas, proibidas, todo e qualquer processo produtivo de base tecnológica, com a exceção da fundição do ouro destinado a Lisboa, era também severamente punido.

Antes, pelo Conselho Ultramarino, depois, de forma mais taxativa, pelo Alvará de Proibição Industrial de Dona Maria Primeira, promulgado em 1785 - quatro anos antes da Inconfidência - proibindo quaisquer indústrias ou manufaturas no Brasil, com exceção das ligadas à produção de aguardente e de panos grosseiros, destinados a vestir os escravos, ou a enfardar produtos para o envio a Portugal.

O Brasil só começaria a vencer essas amarras, com a construção, nestas Minas Gerais, da usina de ferro de Intendente Câmara, e dos fornos erguidos por Jean de Monlevade, na cidade que hoje leva seu nome. O estanco – como se dizia então - garantiu o monopólio da Coroa Lusitana, primeiro, sobre a extração de pau-brasil, depois, na produção e exportação de açúcar, na mineração e fundição do ouro, na extração de diamantes, com a criação do Distrito Diamantino, em 1733.

Era preciso assegurar – além do controle do mercado da colônia para os produtos comercializados pelos portugueses – que todo o esforço, a capacidade de realização, a atenção da população, estivessem voltados para um único e só objetivo: a exploração contínua de nossas riquezas e o seu transporte para além-mar, durante todo o período colonial.

Foram a prata de Potosí, nos Andes, os diamantes de Diamantina, o ouro dos palácios aztecas, das minas de Ouro Preto e Sabará – reunidos pela imprevidência espanhola e portuguesa nas mãos da Inglaterra – que financiaram o salto tecnológico e científico da Revolução Industrial, responsável pela consolidação do predomínio anglo-saxão sobre o mundo ocidental. Predomínio este, que só, agora, nos últimos decênios, começou a ser desafiado, com a emergência de nações como a Alemanha, a Rússia, a China e o Japão.

Senhoras e Senhores,

Tomo a liberdade de valer-me, aqui, dessas reminiscências históricas, para imaginar onde poderíamos ter chegado se não nos tivessem, por tanto tempo, proibido o acesso a qualquer forma de conhecimento. É preciso valorizar o revolucionário esforço de se fazer ciência, de se promover e praticar a invenção, a inovação, a criatividade, neste país, considerando-se os imensos obstáculos que tivemos de encarar na gênese da Nação e do Estado. O mineiro incorpora o desafio da paisagem. Seu olhar sempre busca o que há além dos rios, dos vales e das montanhas.

Ou o que há acima das nuvens que com elas se confundem, e não há mineiro que não tenha sonhado mais em romper com esses limites, impostos pela natureza ao homem, do que o mineiro Alberto Santos Dumont, inspirador e patrono desta medalha. Nesta cerimônia, nós o homenageamos, e reverenciamos sua memória, e a de outros ilustres homens de ciência de Minas Gerais, como o seu contemporâneo, o médico, sanitarista e bacteriologista Carlos Chagas.

A obstinação, o engenho e a pesquisa, são marcas comuns a Dumont e a Chagas. Os dois foram, a seu modo, navegantes. Um, abriu ao homem os céus e o espaço, os segredos do vento e da gravidade, da mecânica e da navegação aérea. O outro, fez o mesmo com o universo oculto do corpo humano, dos vetores e protozoários, desvendando os mistérios clínicos e epidemiológicos de uma doença responsável pela morte de centenas de milhares de seres humanos.

É essa criatividade, inteligência e determinação, comuns a um e ao outro, que estão presentes, também, naqueles que homenageamos hoje, nesta cerimônia. A todas as personalidades e instituições aqui agraciadas, fica o reconhecimento e o agradecimento do povo mineiro, nesta data cívica de homenagem à inteligência de nossa gente.

Ao Magnífico Reitor da nossa Universidade Federal de Minas Gerais, professor Clério Campolina, orador oficial desta cerimônia, registro os cumprimentos de todos os mineiros por este valioso patrimônio de nosso capital humano, maior riqueza de nosso Estado. Ao longo das últimas décadas, a UFMG firmou-se como uma das mais destacadas universidades de nosso país, com forte presença internacional, fazendo jus, em conjunto com as demais instituições de ensino superior de nosso Estado, de nossas permanentes homenagens. Este é o grande sonho tecnológico de Santos Dumont, também realizado.

Permitam-me aqui, antes de concluir, em tom de improviso, acrescer que esta semana comemoramos também, eminentes oficiais generais das Forças Armadas brasileiras aqui presentes, 70 anos do lançamento ao Brasil de um documento tão importante quanto foi o Manifesto dos Mineiros, à época do Estado Novo de Getúlio Vargas. Exatamente há 70 anos, Minas Gerais, através dos próceres da sua intelectualidade, apresentava ao Brasil mais uma vez, depois de Felipe dos Santos, dos Inconfidentes, de Tiradentes, de Teófilo Otoni, um brado pela liberdade, um brado pela democracia. E faço referência a essa efeméride aqui nessa solenidade, porque comecei esse discurso dizendo exatamente que o sonho de voar de Alberto Santos Dumont era um sonho vocacionado ao tema da liberdade. Tanto assim, que o nosso próprio hino à República, anterior ainda ao voo de Santos Dumont, alude em seus versos, a um célebre frase que todos nós brasileiros conhecemos: liberdade, liberdade abre as asas sobre nós. Ou seja, são as asas de Santos Dumont, asas desse grande mineiro que permitiu a humanidade ganhar os céus, que está simbolicamente vinculada ao sonho maior de Minas, que é a liberdade. Salve Santo Dumont! Salve Minas Gerais!

Muito obrigado!

SEGOV - Secretaria de Estado de Governo de Minas Gerais

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