Minas por Região

Pronunciamento

20h17min - 12 de Setembro de 2012 Atualizado em 11h27m

Pronunciamento do orador da solenidade da medalha JK, desembargador Joaquim Herculano Rodrigues, presidente do TJMG

12 de setembro de 2012 – Diamantina – Minas Gerais

Das montanhas de Minas corre um fio sem fim de memórias, histórias que o mineiro ouve e acolhe, conta e reconta, modela e recria. Minas é sempre Gerais. Está sempre além. É mar de terra, marés de montanhas. Também é poço fundo, extenso, profundo. Minas tem curvas pra dentro e pra fora. É a casa, a cozinha, a cidade, o mundo. É o pão, a quitanda, o ouro, a pedra preciosa, o diamante de Dimantina, a gente valorosa. Minas são seus líderes para além das Gerais, disseminando poesia, ideias, ideais, política, sonhos.

Adélia Prado, mineiramente, lembra a força do sonho:

O sonho encheu a noite

Extravasou pro meu dia

Encheu minha vida

E é dele que eu vou viver

Porque sonho não morre.

Sonhar vale a pena. Preenche a existência. E quando projetos e aspirações são compartilhados, tornam-se mais fortes e possíveis.

Paulo, Otto, Fernando e Hélio, grandes escritores, eram amigos, na melhor concepção da “mineiridade”. Partilhavam inquietações, alegrias e ideais.

Paulo Mendes Campos transformou em versos o desafio de expressar o amor:

Neste soneto, meu amor, eu digo, 

Um pouco à moda de Tomás Gonzaga, 

Que muita coisa bela o verso indaga 

Mas poucos belos versos eu consigo. 

Igual à fonte escassa no deserto, 

Minha emoção é muita, a forma, pouca. 

Se o verso errado sempre vem-me à boca, 

Só no peito vive o verso certo. 

Ouço uma voz soprar à frase dura 

Umas palavras brandas, entretanto, 

Não sei caber as falas de meu canto 

Dentro de forma fácil e segura. 

E louvo aqui aqueles grandes mestres 

Das emoções do céu e das terrestres. 

Otto Lara Resende, ao ser entrevistado pelo amigo Paulo Mendes Campos, define o seu jeito de ser – bem mineiro:

“Eu sou daquele tipo de chato a quem não se pode perguntar como vai. Porque respondo, explico, entro em pormenores.”

Por essas e outras rabugices humanas, Hélio Pellegrino pede perdão:

Pai trinitário que me salvaste

Do descaminho, da treva escura,

Perdoa o filho que ainda perdura

Na sua confusa perversidade.

Perdoa o filho, a sua loucura,

Feito de barro, de luz impura,

Perdoa o Filho, de humanidade

Manchado, aflito, na sua cidade

Feita de asfalto, de aço e guindaste.

Todo pecado, levando-o em rubro

Sangue perene, no qual descubro

Meu nome e origem, minha futura

Rede onde, à noite, submerso em sono,

Hei de encontrar-me de novo, dono

Da eternidade, da eternidade.

Enquanto isso, Fernando Sabino, o outro integrante do grupo de pensadores, quer o retorno às alegrias e leveza da infância:

Quando eu era menino, os mais velhos perguntavam: o que você quer ser quando crescer? Hoje não perguntam mais. Se perguntassem, eu diria que quero ser menino.

A inocência do menino de Minas é desfeita pelo homem maduro, na voz do poeta Carlos Drummond de Andrade. Ele mesmo escreve: “Meu verso é a minha consolação.” Será que ele está mesmo consolado?

“Minas

teimoso lume aceso

mesmo sob cinza,

Minas Acesita

Minas Usiminas

Minas Ipatinga

Minas felina

a custo ensaiando

o salto da serra

bem alto,

o romper das algemas

mais férreas que o ferro,

no rumo certeiro

do Intendente Câmara

Minas que te miro

desprezando os prazos

de imemoriais atrasos

de leve batendo à porta

da era espacial,

Minas tório urânio

Minas esperança

Minas detectando

o sinal

sob a tibieza dos homens

e o parangolé da retórica

Minas mineiralmente

Geral Gerais

auriminas

turmalinas

diamantiminas

muito abaixo da mais uterina

Minas recôndita

luzindo

o cristalino espírito de Minas.

Minas Gerais nos encanta com toda a sua riqueza. Pena ser tão explorada há tanto tempo... a perder de vista. Há que se temer o destino de tanta exploração, de tanta vontade de consumir e exportar.

Em Belo Horizonte, a Serra do Curral virou uma casquinha. Aqui e ali, ecologistas gritam por animais, água e vida ameaçados. Na verdade, ameaçados estamos todos e cada um de nós.

A capacidade de criar produtos vendáveis é sedutora. O consumismo é a palavra de ordem do sistema capitalista. Porém, alguns recursos naturais não são renováveis. Mesmo no caso daqueles que se renovam, há um limite para se extrair de forma a se evitar a exaustão.

Essa consciência é essencial à preservação do planeta. Mas, além de saber o limite, o quanto, como e até quando explorar, é preciso que se reconheça o valor dessas riquezas.

É por isso que Minas precisa, sim, de "Minério com mais justiça – Como está não dá para ficar". Esse slogan da campanha lançada pelo Governo Mineiro chama a atenção para a necessidade de uma compensação financeira maior pela exploração de recursos minerais.

No lançamento da campanha, foram divulgados os dados. A alíquota em Minas é de 2% sobre a produção líquida. Em países como Índia, Austrália e Rússia, os índices variam de 10% a 4,8%. Por isso, é importante chamar a atenção para o projeto de lei que tramita no Senado para reajustar os atuais 2% da receita líquida para 4% da receita bruta.

Volto a Drummond - Minas/ teimoso lume aceso/mesmo sob cinza -, para destacar essa luz que não se apaga da Minas esperança.

A poesia mora na alma do mineiro. E Minas são várias: às vezes, próspera; mas pode também ser pobre; molhada ou muito seca se mais ao sul ou ao mais ao norte. Não faltam lembranças de antigas paisagens que hoje são apenas retratos na parede das “Confissões do Itabirano”. Realmente, como isso dói.

Na diferença reside o tom da maior ou menor necessidade. E que o Poder ou os homens públicos não se esqueçam dos desprovidos, da gente vária destas Minas Gerais.

Passando pelos Emboabas, as Sedições de Pitangui e de Vila Rica, a luta dos Inconfidentes contra a Derrama, a Revolução dos Liberais de Teófilo Otoni com ideais republicanos - o nome de Minas pode ser associado ao inconformismo com a injustiça. Marcada pelo sonho de liberdade e democracia, a política é uma característica importante do nosso Estado. Afinal, aqui a palavra tem, além de poesia, muita força e produz eco em todos os rincões do Brasil!

Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes, transformou-se em herói nacional, um símbolo da luta pela independência. Seu corpo foi esquartejado e exposto aos olhares e pesares dos transeuntes. A história chegou aos ouvidos de quem não pôde ver, bateu forte no coração de Minas e do Brasil. Decretou uma sentença ainda maior contra aqueles que o condenaram: o réu virou mártir, o herói da liberdade. Arregimentou adeptos.

O sonho encontrou solo fértil. Os dissabores do mau tempo e os ventos fortes não conseguiram vencer a árvore da liberdade, que resiste, fincada na terra e na mente deste povo que guarda na memória a dor da opressão. E também resiste.

Diamantino, segundo o dicionário, é o que tem pureza, integridade; é precioso, puro. Diamantina é berço de preciosidades. Como não se orgulhar de Juscelino Kubitschek? O político mineiro que fez o coração do Brasil palpitar no Planalto Central, capaz de transformar sonho em capital.

De JK, algumas frases continuam retumbando:

Sou visceralmente democrata. Para mim, a liberdade é algo fundamental.

Ou ainda...

O perdão é a marca da grandeza, sobretudo quando se tem em vista um objetivo mais alto.

São palavras de quem, mineiramente, matuta, concebe. Consente e não se ressente. Espera. Move-se em direção ao alvo certo. Faz.

O nome de JK está sempre associado à visão de futuro, modernidade, vocação para o desenvolvimento, conciliação e alegria. Ele tinha carisma. Agregava multidões. As pessoas se identificam com a humanidade do seu líder. Admiravam seu entusiasmo e seu espírito cosmopolita.

Ao assumir o Governo de Minas, Juscelino tomou a decisão de divulgar, periodicamente, pelo rádio, um balanço de suas atividades – uma decisão muito arrojada para sua época. Peço atenção para as palavras do próprio JK, divulgadas no dia 23 de junho de 1951:

Meu dever é entrar em contato com todos, dizer a todos o que está fazendo o governo, prestar contas a todos os mineiros do que está acontecendo com a nau do Estado sob as nossas mãos.

A solução é o rádio. Só por intermédio dele poderei realizar este propósito de trazer o povo sempre a par do que se está fazendo, das lutas que vamos enfrentando, das dificuldades em que tropeçamos e das vitórias que iremos alcançando, neste labor de dia e noite, pela prosperidade de Minas Gerais.

Por que isso – vitórias – nós as haveremos de ter. E grandes. Não assumi o governo de Minas para vir chorar como Jeremias, nem para dizer aos mineiros que vamos de mal a pior, porque para isso eu não precisava ser eleito – ficava na oposição. Assumi o governo para trabalhar. Para fitar um objetivo de enriquecimento e grandeza de Minas e meter mãos à obra, sem receios nem hesitações. O resto há de vir como já está vindo.

Não poderia citar, neste momento, todo o memorável discurso. Mas, quero destacar outra frase:

Conheço o poder do trabalho e sei que ele opera milagres.

Esse é o Juscelino Kubitschek que está guardado na alma dos mineiros.                                            

Quando se fala em homens públicos, é impossível não lembrar JK. E de todas essas fontes – da poesia e sabedoria de Minas – beberam representantes das novas gerações de homens públicos.

O líder de outrora nos faz lembrar o líder de hoje: o Governador Antonio Augusto Anastasia, um incansável defensor de Minas e do povo mineiro. Ele é o gestor afinado com os novos tempos, que preza o desenvolvimento econômico de forma sustentável.

De Anastasia, pode-se dizer que é um eterno professor, um mestre, um administrador e, acima de tudo, um servidor público.

O Governador de Minas tem levantado grandes bandeiras, com transparência, buscando construir “um Estado que faça mais com menos, e melhor”. 

É também com muito orgulho que podemos falar do Vice-Governador Alberto Pinto Coelho. De família mineira, ele nasceu em Rio Verde, Goiás, mas veio, aos três anos de idade, para Minas Gerais – este seria o lugar de sua trajetória de homem público, com capacidade para o trabalho e o consenso.

A força de Minas se pauta no diálogo: “É conversando que a gente se entende”.  Dentro desse espírito se coadunam os Órgãos do Poder - Judiciário, Executivo e Legislativo –, este, liderado pelo Deputado Dinis Pinheiro, outro homem público dedicado às causas sociais.

A Medalha Juscelino Kubitschek nos remete a este notável mineiro, nascido nesta bela cidade de Diamantina, que a gente não se cansa de admirar.

Parabéns ao Governo de Minas e a todos os homenageados. Quero crer que essa condecoração reaviva, aqui, o nosso espírito de luta em favor daqueles que são a razão de ser das instituições públicas e também da iniciativa privada: o povo mineiro.

Nada se justifica se não estiver associado à melhoria de vida das pessoas, à preservação do planeta, à promoção da paz e do bem estar social. O cidadão de Minas e do Brasil não tolera mais a falta de transparência, a corrupção e a desigualdade.

Vamos fazer coro ao grande diamantinense JK: Somos visceralmente democratas. Para todos nós, liberdade é fundamental.

Muito obrigado!

SEGOV - Secretaria de Estado de Governo de Minas Gerais

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