A hanseníase é doença infecciosa, crônica, causada por uma bactéria – M. leprae. Ela afeta a pele e os nervos periféricos, em especial os dos olhos, braços e pernas. O tempo entre o contágio e o aparecimento dos sintomas é longo e varia de dois a cinco anos. É importante que, ao perceber algum sinal, a pessoa com suspeita de hanseníase não se automedique e procure imediatamente um serviço de saúde.
“Qualquer mancha na pele ou área de pele aparentemente normal, mas com alteração de sensibilidade, pode ser hanseníase. Neste caso o paciente deve ser encaminhado a uma unidade de saúde para confirmar o diagnóstico e iniciar o tratamento”, disse Aparecida Grossi.
Colônias
A Fundação Hospitalar de Minas Gerais (Fhemig) tem quatro ex-colônias de hanseníase que transformaram-se em modernos centros de reabilitação e cuidado ao idoso, além de oferecer atendimento à população em geral em diversas especialidades médicas.
A mais antiga das ex-colônias de hanseníase do estado, a Casa de Saúde Santa Izabel está localizada em Betim e faz parte do Consórcio Intermunicipal de Saúde do Médio Paraopeba, oferecendo atendimento ambulatorial nas especialidades de dermatologia, oftalmologia, cardiologia, ortopedia, ginecologia, hansenologia, odontologia e cirurgia geral e plástica.
Nos dias atuais, a hanseníase é uma doença que pode ser tratada e curada com a poliquimioterapia, mas, de acordo com o coordenador do Núcleo de Ensino e Pesquisa (NEP) da Casa de Saúde Santa Izabel, Marco Túlio de Freitas Ribeiro, na década de 1930 não era bem assim.
No ano de 1931 foi inaugurada a Casa de Saúde Santa Izabel, a cerca de 40km de Belo Horizonte. O local, lar dos hansenianos, era cercado de água, a propósito, para que os internos ficassem isolados, ninguém podia entrar ou sair sem autorização.
A Colônia Santa Izabel, assim chamada antigamente, tinha sua estrutura física bastante simples, e era lá que os pacientes, viviam e eram “tratados”. Na época com tratamento não efetivo e transmissão por via aérea, poucas pessoas se habilitavam a ir trabalhar lá, deixando os internos uns por conta dos outros. Quando os médicos visitavam os pacientes, usavam uma roupa com muita proteção, pelo medo que tinham.
Todas as portas eram trancadas com correntes e constantemente vigiadas. Os pavilhões eram coordenados por freiras, e as regras de convivência eram rígidas. Algumas mães atravessavam o rio para verem seus filhos, já que as freiras normalmente tiravam as crianças de suas mães e as levavam para uma nova família, sadia. Muitos cometeram suicídio.
Apesar de tudo isso, eles viviam uma vida “normal”. Quem tinha condições físicas podia trabalhar, praticar esportes e tinham acesso à cultura. Havia sessões de cinema, festivais de teatros, bailes aos sábados e domingos. Esses eventos eram animados pelo grupo de jazz formado por internos da própria colônia Santa Izabel. Além disso, no salão de jogos eram promovidos bingos e jogos envolvendo toda a comunidade.
Em 1965 foi permitido que os pacientes deixassem a instituição. Porém, a maioria decidiu ficar, já que tinha consciência do preconceito que existia na sociedade que vivia além das águas que rodeavam a colônia.
Quando, em 1980, o tratamento efetivo foi criado, muitos hansenianos já tinham constituído família e construído uma vida naquele local. Segundo o coordenador do NEP, Marco Túlio, com a cura para a doença, não era mais preciso deixar os doentes isolados e, com isso, a colônia deixou de receber internos e passou a cuidar daqueles que ali envelheciam.
“Muitas pessoas que tiveram a hanseníase no passado ficaram com sequelas e, por este motivo, a antiga Colônia deu lugar à Casa de Saúde Santa Izabel, um local de reabilitação e cuidado para estes idosos”, explicou.