BELO HORIZONTE (16/09/09) - “A informática mudou minha vida”. A afirmação enfática é de Dérik de Jesus, 19 anos, aluno do 3º ano do Ensino Médio da Escola Estadual Silviano Brandão, em Belo Horizonte-MG. Para quem não conhece a história de Dérik, a frase pode parecer exagerada. Mas não é. Ele, que mora com a mãe, Simone de Jesus, empregada doméstica, e com o padrasto, Márcio de Oliveira, que faz “bicos” para sobreviver, descobriu que tem talento para montar e desmontar computadores, diagnosticar e solucionar problemas em hardwares e softwares.

“Agora, além de ter conseguido meu primeiro estágio, faço manutenção em computadores da comunidade para ajudar no orçamento mensal”, conta Dérik, comemorando sua primeira experiência profissional, o estágio na Prefeitura de Belo Horizonte. Mas a ‘reviravolta’ que está mudando a vida de Dérik não se ocorreu por acaso. Em 2008, ele foi um dos alunos que concluíram o curso de Manutenção e Montagem em Microcomputadores, que faz parte do programa Formação Inicial para o Trabalho (FIT), promovido pela Secretaria de Estado de Educação (SEE).

“Eu era um aluno ‘da pá-virada’, meio atrevido. Hoje, dou valor para o trabalho e para o estudo, pois sei que, assim, muitas portas vão se abrir. Eu sempre estudei de manhã, mas passava as tardes na escola, fazendo trabalhos voluntários e estudando. Era uma forma de me manter longe das coisas ruins da rua”, relata o jovem, que pensa em cursar Ciência da Computação em alguma universidade.

“Conheço o Dérik desde criança, quando ele entrou para o pré-primário. Ele mudou muito e hoje é uma espécie de ‘braço-direito’ nosso”, revela Nilce Faria, diretora da E.E. Silviano Brandão. De acordo com ela, quando um computador da escola apresenta um problema, ele é um dos alunos que têm experiência para resolver.

Doações

A E.E. Silviano Brandão recebe, frequentemente, doações de micro-computadores das mais variadas fontes. Porém, de acordo com Nilce Faria, as peças são, geralmente, muito velhas e quase sempre estragadas e obsoletas. “Então, contamos com a experiência de alunos do FIT para abrir as torres, aproveitar as peças boas e montar novos computadores. É uma forma de reciclagem que vem dando muito certo. Quando o novo computador fica pronto, mas não tem utilidade para a escola, doamos para entidades carentes da cidade”, explica Nilce, reforçando a importância do FIT para a escola.

O FIT

Os cursos de Formação Inicial para o Trabalho (FIT) foram desenvolvidos pela Secretaria de Estado de Educação com o objetivo de capacitar professores em diversas áreas da informática para repassarem o conteúdo para alunos interessados. A iniciativa faz parte do Programa de Melhoria da Qualidade e Eficiência do Ensino Médio (Promédio) e conta com o Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial (Senac), que se responsabiliza pela infraestrutura, instrutores, equipamentos e material didático.

Desde que foi criado o programa, em 2008, cerca de 19 mil professores foram capacitados, e 140 mil alunos do Ensino Médio do estado participaram do FIT. As aulas abordam os seguintes conteúdos: Linux, Blender, construção de website, editoração eletrônica, Impress, introdução de banco de dados, QCAD, Gimp, Open Office (Calc e Writer) e montagem e manutenção de micros.