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Segurança / Defesa Social

15h08min - 11 de Abril de 2014 Atualizado em 15h15min

Detentos que fazem crochê para exportação conferem exposição própria em feira de moda

Peças criadas pelos presos, pertencentes à coleção “Flor de Lotus” ficaram expostas na feira de moda Minas Trend Preview, em Belo Horizonte

“Mudança e renovação”.  Foi com essas palavras que os presos Luiz Paulo Pacheco da Silva, 33 anos, e Sandro Heleno dos Santos, 31, da Penitenciária Professor Ariosvaldo Campos Pires, na Zona da Mata, definiram a visita que fizeram nesta quinta-feira (10/04) à exposição das peças confeccionadas por eles na feira de moda Minas Trend Preview, em Belo Horizonte.

Os casacos, vestidos e ponchos feitos de tricô e crochê são destaques da Doisélles, marca da empresária Raquell Guimarães, parceira do programa Trabalhando a Cidadania, iniciativa da Secretaria de Estado de Defesa Social (Seds), por meio da Subsecretaria de Administração Prisional (Suapi).  As peças pertencem à coleção “Flor de Lotus”, e são confeccionadas por Pacheco, Sandro e outros 16 presos da unidade prisional. O nome da coleção é uma homenagem aos próprios detentos artesãos.

Vitória

Ao entrar no salão da feira, Luiz Paulo e Sandro não conseguiam esconder a euforia e a emoção de poder ver de perto o resultado do seu trabalho, principalmente Luiz Paulo, mais conhecido como “Pacheco”, que há 12 anos não tinha contato com as ruas.  Em um dos pontos onde estavam expostas as peças, foi afixado um painel enorme com fotos dos presos. Além disso, vídeos contavam o dia a dia do trabalho na penitenciária. “A emoção de estar num local onde as peças que eu faço estão expostas é tão forte que fico até sem palavras”, disse Pacheco.

O preso artesão conta que no começo da parceria com a marca ficou um pouco assustado porque, para ele, produzir roupas de tricô e crochê era uma atividade para mulheres apenas e não para homens, principalmente os privados de liberdade.  “Depois de conversarmos com a Raquell, percebemos que era uma oportunidade nova, que iria nos ajudar a reduzir o tempo de prisão e também nos oferecer a chance de fazer coisas novas. Hoje vejo que valeu a pena, porque o melhor já aconteceu, que é a valorização do nosso trabalho”, destaca.

O detento Sandro, que está a poucos dias de ganhar o benefício do regime aberto, depois de cinco anos preso, diz que agora terá mais tempo para dedicar ao trabalho e pretende aproveitar a oportunidade. “Vou sair já com o trabalho garantido com a marca. Sei que existe preconceito com as pessoas encarceradas, mas estou pagando pelo delito que cometi, reconheço o meu erro e mereço uma chance de mudar de vida porque este é o meu desejo”, disse.  “O mais legal disso tudo é que posso dizer hoje sou um artista com talento”, completou.  

Exportação

A parceria da penitenciária com a marca existe há cinco anos. Segundo a diretora Andrea Andries Valéria Pinto, os presos trabalham dentro de um ateliê montado na unidade e são divididos em turmas. Segundo ela, além do excelente comportamento carcerário, a outra condição para o preso participar do trabalho é estudar. A perspectiva é que outros 20 presos também comecem a trabalhar para a marca.

A produção dos presos de Juiz de Fora já ganhou o mundo e são exportadas para 11 países. As peças são vendidas em um showroom de São Paulo, feiras em Paris e Tóquio e em 70 lojas multimarcas no Brasil. “Sem dúvidas, a grande beleza da Doisélles é justamente o olhar masculino dos detentos sobre algo tão delicado e tão feminino que é o tricô e crochê”, afirmou Raquell. 

De acordo com a empresária, os produtos são muitos bem aceitos tanto pelo design dele, que é inovador, quanto pela história que tem por trás. “A gente faz questão de mostrar que a beleza disso tudo é a beleza da transformação dos presos e todas as peças têm este selo.”

Humanização

Para o subsecretário de Administração Prisional, Murilo Andrade de Oliveira, Minas Gerais tem buscado, por meio do trabalho e do estudo, a ressocialização dos presos. “Dentro do plano mineiro de Humanização do Sistema Prisional, temos investido fortemente na abertura de espaços multiusos para oferecer aos presos a oportunidade de profissionalização”, disse. Atualmente, 13 mil detentos trabalham no estado nas mais diversas atividades.

SEGOV - Secretaria de Estado de Governo de Minas Gerais

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