A Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural de Minas Gerais (Emater-MG) vem estimulando a lavoura comunitária do povoado de Felipe, em Bom Jesus do Amparo, na Região Central mineira, desde a década de 80. De alguns anos para cá, a lavoura, antes mista, tornou-se exclusiva das mulheres. Como não tem terra para plantar, o grupo faz parcerias com fazendeiros da região.

A lavoura feminina conta também com o apoio da prefeitura. A Emater-MG doa sementes, capacita as lavradoras e presta assistência técnica. O município envia ônibus para o transporte das mulheres até as fazendas parceiras, fornece adubos e máquinas para o preparo da terra.

A líder comunitária Dimara Santos Silva, lavradora e uma das fundadoras da Associação dos Amigos do Povoado de Felipe, a associação mais antiga de Bom Jesus do Amparo, é também a responsável pelo recrutamento das mulheres para trabalhar no local.

Nascida e criada no povoado, Dimara conta que os primeiros moradores de Felipe foram construindo suas casas de pau-a-pique num vale que dividia as terras dos fazendeiros da região. “Os fazendeiros foram cercando as terras e deixando o local das casas, nascendo assim o povoado de Felipe. Sem terra para plantar, os lavradores se tornaram meieiros dos fazendeiros da região, desde quando se instalaram no local”, relata.

Primeiro contrato de arrendamento

Esse ano, a lavoura das mulheres deu um passo importante que é motivo de comemoração na comunidade. Foi a primeira vez que elas conseguiram efetivar um contrato de arrendamento de terras para plantar. De acordo com Dimara Silva, como são lavradoras e pagam o Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), o contrato vai ajudar na aposentadoria.

“Desde que plantamos, tudo era combinado só na conversa. Esse ano, o grupo formado por 18 lavradoras plantaram em quatro hectares as sementes doadas pelo Programa Minas Sem Fome, no final de 2012, de forma documentada com o fazendeiro”.

Segundo a engenheira agrônoma da Emater, Jussara Gomes Guerra, as sementes foram entregues em março para o plantio do feijão da seca. Ela explica que o objetivo da Emater é a segurança alimentar e, para consegui-lo, é necessária a parceria com a prefeitura da cidade.

“Nesta parceria, a prefeitura fica com 30%, o dono do terreno com 20% e as lavradoras com 50%”, destaca. Jussara Guerra informa que a divisão da colheita desta forma e o primeiro contrato efetivado são conquistas recentes. “Antes da efetivação das parcerias, os lavradores eram meieiros e tinham dificuldade para comprar os grãos e preparar a terra. Por isso as lavouras eram bem menores”, justifica.

Jussara Guerra informa, ainda, que depois da adesão ao Programa Minas Sem Fome, a grande vantagem é que os grãos chegam na hora certa, assim como também o adubo e as máquinas cedidas pela prefeitura. Hoje a lavoura cresceu. As mulheres plantam e colhem muito mais. A engenheira informa que, de 1998 para cá, com o envolvimento da Emater, o trabalho de muitos anos vem evoluindo e agregando renda às famílias. A prefeitura também oferece ônibus para o transporte das mulheres até as lavouras distantes. Sem esta parceria, a lavoura não aconteceria”, observa a técnica da Emater.

Segundo a história local, os primeiros moradores de Felipe se instalaram no vale depois de abolida a escravidão. Para sobreviver, plantaram milho e feijão, entre outras culturas para subsistência. A líder Dimara Silva diz que o costume foi passado de geração em geração. Hoje, no povoado, existem também artesãos que produzem por meio de material reciclado, que é outra fonte de renda.