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Educação

17h03min - 31 de Outubro de 2011 Atualizado em 01h49min - 01 de Julho de 2013

Estudantes da rede pública se conhecem após um ano de correspondências

No Intercâmbio Cultural BH – Jabó, para estimular a escrita e a leitura, teclado e webcam dão lugar à caneta e ao papel e as novas amizades são feitas por meio de cartas. Após quase um ano de troca de correspondências, cerca de mil estudantes de escolas públicas se reuniram neste sábado, em Belo Horizonte, para conhecerem seus correspondentes.

BELO HORIZONTE (31/10/11) - E-mails, mensagens instantâneas pela internet e uso de mídias sociais. Essas práticas de comunicação, comuns entre os jovens de hoje, deixaram de ser prioridade para um grupo de alunos de escolas públicas de Belo Horizonte e Região Metropolitana. Pelo menos dentro do projeto “Intercâmbio Cultural BH – Jabó”, teclado e webcam dão lugar à caneta e ao papel e a comunicação é feita por meio de cartas. Após quase um ano de troca de correspondências, nas quais falavam de seus gostos e perfis, cerca de mil estudantes se reuniram neste sábado (29), em uma faculdade de Belo Horizonte, para conhecerem seus correspondentes.

Entre eles estava Daniele Isaura Lopes, 18 anos, da Escola Estadual Leônidas Marques Afonso, em Jaboticatubas. Desde o começo do ano ela troca cartas com Henrique de Jesus Moraes, da Escola Municipal Hélio Pellegrino. Apesar de ter conhecido um pouco dos gostos e hábitos do estudante, a fisionomia do correspondente ainda era um mistério para a adolescente. “Cheguei ao encontro sem ter a menor ideia de como ele é. Não consegui montá-lo na minha cabeça, mas gostei quando conheci. A gente conversou bastante sobre família, amizade, lugares diferentes, pois ele nasceu na Bahia e se, Deus quiser, a amizade vai continuar”, acredita Daniele.

Neste primeiro encontro, os alunos puderam se conhecer um pouco mais e a manutenção ou não do contato, a partir de agora, depende deles. “Ela é como eu esperava. A gente pode conversar mais e, provavelmente, a amizade vai continuar. Nós até trocamos telefone”, explica Henrique de Jesus Moraes.

O contato com a linguagem da carta e a possibilidade de formar novas amizades não são os únicos objetivos do “Intercâmbio Cultural BH – Jabó”. O projeto, que em 2011 completa 15 anos, surgiu após uma observação feita pela professora de Língua Portuguesa, Ana Maria Pereira de Siqueira, e suas duas irmãs, que também lecionam a disciplina, Patrícia Auxiliadora Pereira Marques e Ima Pereira Nunes Moreira.

“A gente notava que os alunos tinham pouco estímulo para a produção de textos, porque era só o professor quem lia. Então, pensamos juntas em uma atividade que pudesse estimular essa produção, com a presença de um receptor real, que é o correspondente”, conta Patrícia. Para participar do projeto o estudante deve ser frequente e assumir o compromisso de escrever as cartas.

Cada carta tem um tema. Na primeira, o aluno produz um texto autobiográfico. Na segunda, ele destaca fatos marcantes de sua vida e faz a ilustração de um poema. Na seguinte, descreve a escola em que estuda, o bairro e a cidade em que vive. O seu ponto de vista sobre algum tema da atualidade é o destaque da quarta carta. Uma mensagem gravada em áudio, enviada em um CD, é outra ação do projeto. As cartas são trocadas por intermédio das professoras.

Como o “Intercâmbio Cultural BH – Jabó” tem caráter pedagógico, cada carta é lida pelo professor, que além de fazer as observações ortográficas, avalia se o texto do aluno não foge ao propósito do projeto que é apresentado no início do ano. “Antes de começar as correspondências, nós fazemos um acordo de confiança mútua. Eles não podem trocar e-mails, orkut ou outra forma de contato. Todos os professores fazem a leitura das cartas de seus alunos. Os estudantes sabem que a carta é pessoal e não confidencial e, por isso, respeitam o acordo”, explica Ima.

O acompanhamento dado pelo professor também tem possibilitado uma maior proximidade com os alunos e o fortalecimento da identidade de cada um. “Uma coisa bacana que a gente percebeu ao longo dos anos foi a mudança do comportamento de alguns alunos. Muitos não conseguiam se aceitar como são. Esta dificuldade vinha quando tinham que se descrever para o correspondente. Depois de uma conversa com os professores, esses alunos passaram a se aceitar mais como são e a não têm vergonha de se apresentar ao outro”, lembra Patrícia.

O projeto, que este ano envolveu oito escolas estaduais e municipais de Belo Horizonte e cidades próximas, conta com a participação de mais de mil alunos. Para a estudante do 3º ano do ensino médio da Escola Estadual Leônidas Marques Afonso, em Jaboticatubas, Dayane Matos dos Reis, a expectativa é a parte mais interessante do projeto. “Eu achei muito bacana a experiência de corresponder utilizando as cartas. Quando você envia a sua, passa a ter a expectativa de receber a que o seu correspondente vai mandar. Com as redes sociais o contato é tão rápido que você nem cria essa expectativa”, avalia. A troca de correspondências começou no mês de março.

Escrever para conhecer

Utilizar cartas para criar uma amizade é vista de forma positiva por uma das idealizadoras do projeto. “É um processo inverso do nosso cotidiano. Primeiro, a gente conhece um pouco do interior da pessoa e depois a aparência. O grande desafio está em manter esse segredo em relação ao físico do outro, que contrapõe a ideia das mídias sociais, tão presentes na atualidade. Os alunos aprendem a valorizar a espera. Saber esperar é um processo de maturação que o jovem de hoje não tem. Os atos de enviar e aguardar a resposta de uma carta é uma espécie de gestação da amizade”, comenta a professora Ana Maria.

Revelando aptidões

Durante o sábado, além de conhecerem os seus correspondentes, os mil alunos participantes do projeto também apresentaram suas aptidões artísticas. Cada uma das oito escolas participantes fez apresentação musical ou teatral relacionada com o tema amizade. Todos os alunos estavam vestidos com camisas do projeto.

A ação teve início em 1997, com a participação de duas escolas públicas, uma de Belo Horizonte e outra de Jaboticatubas, envolvendo cerca de 120 alunos. Quinze anos depois, a iniciativa que busca despertar o interesse pela leitura e escrita dos estudantes está mais forte do que nunca.

Em 2011, mil alunos de oito escolas trocaram correspondências. As escolas participantes desta edição do projeto são: Escola Estadual Leônidas Marques Afonso (Jaboticatubas), Escola Estadual Cardeal Arco Verde (Jaboticatubas), Escola Estadual Professor Neidson Rodrigues (BH), Escola Estadual Goes Filho (São José de Almeida), Escola Estadual Dona Francisca Josina (Serra do Cipó), Escola Municipal Hélio Pellegrino (BH), Escola Municipal Sobral Pinto (BH) e Escola Municipal Professor Daniel Alvarenga (BH).

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