12h01min - 09 de Novembro de 2012 Atualizado em 07h19min - 01 de Julho de 2013
Orquestra composta por jovens do Vale do Jequitinhonha foi descoberta durante trabalho de pesquisa de professores da UEMG e UFMG
Uma surpresa musical marcou a tarde desta quinta-feira (08) para o público da Cidade Administrativa. A Orquestra Filarmônica da Escola Estadual Santo Isidoro, localizada em uma comunidade remanescente de quilombolas, se apresentou pela primeira vez em Belo Horizonte.
O conjunto é formado por jovens da cidade de Berilo, povoado de mil habitantes, localizada no Vale do Jequitinhonha. Segundo a diretora da escola, Maria de Jesus Cassiano Rodrigues, esta é a única entidade que a comunidade realmente frequenta. “Lá atendemos 239 jovens e muitos atravessam três rios para ter acesso à escola. No passado, o povoado era conhecido como Povoado do Córrego, porque tropeiros paravam ali para comer e descansar nas margens dos rios”, explica.
O sopranista e um dos diretores da orquestra, Marcelo Martins, contou que a filarmônica começou seus trabalhos em 1993. Mas foi somente com a chegada de um maestro de Francisco Barão, cidade vizinha, e a acolhida da escola que o trabalhou deslanchou.
“A orquestra começou na sede, mas tomou consistência na escola, quando 60 pessoas passaram a participar dos ensaios feitos por voluntários. O atual maestro, o Idelfonso Alves foi aluno da escola, e desde 2000 está à frente da filarmônica, que não cobra pelas apresentações. E ganhar espaços como a Cidade Administrativa nos dá satisfação, representa muito. E tudo isso nos dá novas perspectivas para continuar. É um apoio de que precisamos”, contou o sopranista.
Descoberta por acaso
A apresentação foi uma iniciativa promovida por professores e pesquisadores da Universidade Estadual de Minas Gerais (UEMG) e Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), que pesquisam a educação em comunidades quilombolas. Segundo José Eustáquio Brito, os músicos foram descobertos durante um trabalho de pesquisa de campo, que está em sua fase inicial e que vai percorrer nove municípios mineiros, todos apontados pelo Ministério da Educação (MEC).
“É uma alegria dar a oportunidade para estas expressões culturais fazerem intercâmbio, mostrarem o que sabem fazer de melhor. Mostramos também, com estas iniciativas, a presença da escola pública na juventude mineira e também o compromisso da universidade com estes movimentos de resistência e luta”, contou o professor.
Na Cidade Administrativa, o público foi composto por servidores e também por transeuntes como um grupo de doutorandos e mestrandos de universidades da Angola, que estão em intercâmbio no Brasil. Ao passar pelo local, Francisco Macongo, diretor da Universidade 11 de Novembro, do país africano, mostrou-se entusiasmado com a apresentação. “Sentimo-nos muito próximos da cultura brasileira no aspecto dança, música e culinária. Desmitificamos as impressões que tínhamos de que estas comunidades eram compostas por pessoas vulneráveis e isoladas”, contou.
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