BELO HORIZONTE (03/12/2009) - Jovens atendidos pelo programa Fica Vivo!, da Secretaria de Estado de Defesa Social (Seds), estiveram no foyer Palácio das Artes para a abertura da mostra “Cidades”, em cartaz até 12 de dezembro. Estarão expostos 130 quadros nos tamanhos 2m x 1,60m e 1m x 0, 70m, em acrílica e óleo sobre tela, que retratam a arquitetura dos morros, monumentos históricos da cidade, a relação do homem com o espaço urbano e cenas que remetem a perspectivas de futuro.

Todos os trabalhos foram produzidos durante oficinas de grafite nos 27 Núcleos de Prevenção à Criminalidade (NPCs) da Seds. Este é o terceiro ano que os grafiteiros do Fica Vivo! expõem no Palácio das Artes. Segundo a diretora do programa, Kátia Simões, a proposta é que a exposição seja um evento anual. “Nela os jovens têm encontrado uma aposta na construção de espaços urbanos onde eles transitam e se expressam cada vez com mais liberdade e naturalidade”, avalia.

A mostra cresceu em relação ao ano passado, incluindo um número mais elevado de telas de dimensões maiores. Não houve uma seleção técnica na escolha das obras, para que todos os participantes das oficinas pudessem se sentir capazes de participar. “Eles mesmos, junto com os oficineiros, pré-selecionaram os trabalhos que consideraram melhores. Mas eu não vetei nenhum deles. Daí a heterogeneidade do conjunto. Há desde trabalhos rudimentares e feitos por principiantes, a outros de grande qualidade técnica”, explica o curador Piero Bagnariol.

Curiosa Cidade

Ao entrar no foyer, o visitante tem a sensação de estar no cenário de uma curiosa cidade, com estruturas de cores vivas e contrastantes, que lembram grandes edifícios, ruas e avenidas. “Há desde visões mais apocalípticas até outras mais idealizadas e utópicas”, descreve Bagnariol. Na avaliação dele, o conjunto das obras que compõem a exposição constituem uma “colcha de retalhos” que oferece uma visão da cidade como um todo.

Os trabalhos manifestam o desejo dos artistas de promover o diálogo entre o grafite e as artes plásticas. “Na minha visão, 'Cidade' promove a legítima apropriação deste e outros espaços nobres de Belo Horizonte por parte dos jovens que participam do Fica Vivo!, suas comunidades e convidados”, diz.

Para o oficineiro do Núcleo do bairro Cabana, Valdivino Duarte, ao ser exposto no Palácio das Artes o grafite se reveste de um novo conceito, ganha status e perde um pouco da sua aura marginal. Ele conta que sua tela “sem título” representa uma cidade vertical, com prédios em forma de latas de spray. “Estou surpreso com a repercussão. Este é um trabalho que foi feito em pouco mais de duas horas, durante o evento de pré-lançamento da mostra, embaixo do viaduto de Santa Tereza”, relata. Como fã do arquiteto Oscar Niemeyer, Valdivino diz que sua intenção foi apenas “propor uma arquitetura inusitada” e que, de alguma forma, tivesse relação com o grafite.

Troca

O oficineiro do Núcleo Morro das Pedras, Dagson Tertuliano Silva, é autor de uma tela que emocionou os visitantes durante a abertura da exposição. Intitulada como “À Deriva, eu Rio”, a obra retrata uma família simples na beira de córrego, próximo a uma favela. As crianças, com semblantes fechados, carregam animais de estimação nas mãos. Dagson se inspirou em sua própria história de vida para compor o quadro. Seu pai era fotógrafo e sempre gostava de registrar imagens, posicionando a família em primeiro plano e uma paisagem caótica ao fundo. “Quis mostrar que, mesmo em meio à miséria e confusão, podem prevalecer sentimentos nobres, como o amor”, explicou.

A diretora do programa, Kátia Simões, acredita que a exposição também é uma boa oportunidade para que um espaço consagrado da cultura mineira, como o Palácio das Artes, mostre um pouco da linguagem da periferia. “É uma troca. A arte desses jovens ganha acesso a um local nobre e seu público tem a oportunidade de conhecer como a cidade é vista pelos moradores da periferia”.

Na avaliação de Kátia, o grande desafio de políticas públicas para a juventude é propor e articular possibilidades e propostas para uma massa de jovens, sem, contudo despeitar o singular e subjetivo de cada um. “Nós temos um busca constante, no sentido de fazer que cada jovem participante das ações do Fica Vivo, oficinas, atendimentos ou capacitação/formação, encontre no programa um parceiro na construção de um novo percurso”, conclui.

Serviço

Evento: Exposição de Grafite Programa Fica Vivo – Tema “Cidades”.

Local: Foyer Grande Teatro do Palácio das Artes

Data: 04, 05, 06, 08, 11 e 12 de dezembro

Horário de visitação: 04, 05, 08 e 11 – de 9h30min as 17h,

Dia 06 – 16h às 17h

Dia 12 de 9h30min às 16h

Entrada franca

Informações: 3236-7400