BELO HORIZONTE (13/11/08) - O sociólogo e economista franco-polonês Ignacy Sachs esteve em Belo Horizonte nesta quinta-feira (13) para a palestra “A Grande Transição: As Saídas da Era do Petróleo”, no auditório do Conservatório da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). A vinda do estudioso a Minas Gerais marcou o lançamento do evento “Diálogos da Terra no Planeta Água”, que será promovido pela Green Cross International e pelo Governo de Minas, de 26 a 28 de novembro, no Minascentro.

O subsecretário de Ensino Superior da Secretaria de Estado de Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, professor Octávio Elísio Alves de Brito, e o ex-ministro da Ciência e Tecnologia, professor José Israel Vargas, apresentaram Ignacy Sachs e falaram da participação dele na construção do conceito de desenvolvimento sustentável do planeta. Brito lembrou a primeira vinda de Sachs a Belo Horizonte há 30 anos para o Simpósio Internacional de Tecnologias Apropriadas. Vargas reafirmou a importância do professor Ignacy Sachs nas discussões do desenvolvimento sustentável associado à ciência e tecnologia e a influência exercida por ele em todos os continentes.

O "ecossocioeconomista” franco-polonês, como é citado, lembrou que a eleição de Barak Obama para a presidência dos Estados Unidos é um momento histórico. Lamentou a crise econômica instalada e fez um retrospecto do período em que o socialismo ruiu. Contudo, disse não acreditar definitivamente que o abalo vivido hoje pelas economias do mundo signifique o fim do capitalismo.

Ao dirigir-se ao tema da palestra, Sachs explicou que as energias fósseis começaram a ser utilizadas pelo homem no século XVII com o carvão, e somente na segunda metade do século XIX, o petróleo e o gás passaram a fazer parte do dia-a-dia de parte da população. Ele assegura que o período atual é de transição para as energias renováveis. Entretanto, acredita que o petróleo existente pode durar muito tempo e causar estragos ainda maiores com a emissão de gases aumentando o efeito estufa. “Os geólogos asseguram que não estamos muito longe do pico de produção do petróleo”, afirmou.

Segundo o professor Sachs, o momento é extremamente favorável à discussão para a saída do petróleo; para a queima racional dos combustíveis fósseis. Ele defende um perfil menos voraz no consumo dessas energias, dentro das estratégias de desenvolvimento sustentável, buscando eficiência. “Temos que examinar todas as energias renováveis que estão surgindo sob todos os aspectos, inclusive os diferentes tipos de biomassa, o etanol, a substituição do carvão das matas nativas”, explicou.

O sociólogo e economista declarou que o embate entre a produção e a preservação é inevitável. E que os ambientalistas vão continuar dizendo que os biocombustíveis condenam à morte milhões de pessoas por todo o mundo. Ele porém, defende a recuperação de terras degradadas e acha perfeitamente possível trabalhar de forma integrada a produção de alimentos e combustíveis limpos.

Sachs não tem dúvida em afirmar que o Brasil é o país que reúne condições excepcionais para praticar a transição, pois possui terras férteis e capacidade de desenvolver a produção, inclusive competência agronômica e tecnológica, como vem mostrando nas últimas décadas. “Mesmo assim, a saída da era petróleo coloca desafios e tarefas científicas urgentes para os nossos pesquisadores”, concluiu.

Diálogos da Terra

O evento “Diálogos da Terra no Planeta Água”, um dos mais prestigiados fóruns internacionais de meio ambiente e desenvolvimento sustentável, que primeira vez será realizado na América Latina, será aberto oficialmente no dia 26, às 19 horas, com pronunciamentos de autoridades nacionais e internacionais, entrega do Prêmio Mineiro de Gestão Ambiental e conferência magna, que será proferida por Mohan Munasinghe, do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC), instituição que em 2007 dividiu o prêmio Nobel da Paz com o ex-vice-presidente americano, Al Gore.

“Diálogos da Terra no Planeta Água” será realizado nos dias 26, 27 e 28 de novembro, no Minascentro, em Belo Horizonte, num realização do Governo de Minas, por meio das secretarias de Estado de Ciência, Tecnologia e Ensino Superior (Sectes) e Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (Semad) e Green Cross International. A expectativa é de um público aproximado de 1500 pessoas, entre brasileiros e estrangeiros.