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Ciência e Tecnologia

13h07min - 14 de Dezembro de 2010 Atualizado em 17h32min - 30 de Junho de 2013

Pesquisa desenvolve veículo misto para beneficiar agricultores

BELO HORIZONTE (14/12/10) - Não é preciso trabalhar na agricultura para conhecer as principais funções de um trator: arar a terra, tracionar cargas, auxiliar no cultivo. No que depender de pesquisadores do curso de Engenharia Mecânica da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), transportar pessoas e mercadorias será, em breve, um novo item dessa lista. Eles estão desenvolvendo um veículo misto, que reúne as funções de trator e caminhão em um só equipamento. O projeto foi iniciado em 2004, com recursos do Sebrae. Posteriormente, obteve apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (Fapemig), por meio do Projeto Inventiva, que financia a construção de protótipos.

“A proposta é fazer um veículo que seja utilizado em fazenda para atividades típicas de trator e possa andar em estradas, sem atrapalhar o trânsito como um trator, que anda a 6km/h”, explica o coordenador da pesquisa, Ramon Molina. A ideia nasceu na comunidade, trazida à universidade pela empresária Vivian Ferrari, cujo pai, já falecido, desenvolvia equipamentos para o exército italiano e, entre outros inventos, pretendia desenvolver o veículo. “Fizemos uma pesquisa no Brasil e vimos que não tínhamos nenhum equipamento do tipo no país. No mundo, já havia similares, mas com custos muito elevados”, diz Molina.

Para a construção do veículo, vários componentes foram testados e alguns construídos. Segundo explica Ramon Molina, algumas peças não estão disponíveis no mercado e precisam ser fabricadas. “Temos utilizado peças de outros veículos. A caixa de marcha é de um jipe, o motor é da GM, alguns itens são do D20”, relata o pesquisador. Ele adianta que a intenção é que, com os resultados dos testes em mãos, novos financiamentos sejam solicitados junto às agências de fomento, a fim de ampliar o trabalho e o potencial de comercialização do projeto.

Na aparência, o veículo misto lembra um trator. Na cabine, há espaço apenas para o motorista. Quando usado na estrada, pessoas e mercadorias podem ser transportadas na parte traseira. Na visão funcional, passa do trator ao caminhão, de acordo com a necessidade do motorista. A migração é feita manualmente, por meio da marcha, que deve ser reduzida, quando o veículo for usado como trator e alongada, quando for usado como caminhão. Como trator, o veículo precisa ter freios individuais nas quatro rodas, trava de suspensão e caixa de redução. Por ser um veículo de fazenda, ele tem que ter tração nas quatro rodas e motor potente. Quando trator, a velocidade não ultrapassa os 6 km/h e, quando caminhão, ela atinge 70 km/h. “No novo veículo, foram feitas mudanças no sistema de freios, de suspensão e na transmissão”, resume Molina. 

De acordo com o pesquisador, a proposta é que o veículo atenda a pequenos e médios fazendeiros, oferecendo a opção de dois veículos em um, já que nem todos conseguem manter um trator e um veículo de estrada ao mesmo tempo. De forma inversa, grandes fazendeiros já possuem os dois veículos e dificilmente se interessariam pelo projeto. “Uma família sem muitos recursos teria só o trator, mas, com o veículo misto, o fazendeiro poderia comercializar os produtos na cidade, transportando a mercadoria, ou até mesmo passear com a família nos fins de semana”, exemplifica. Ele afirma que a ideia é que o produto chegue ao mercado com custo razoável, exatamente para que seja acessível a fazendeiros com menor renda. 

Molina afirma que, com esse objetivo, não existe veículo similar no Brasil. No exterior, alguns modelos têm características semelhantes, embora não sejam utilizados com essa finalidade e sejam caros, até mesmo por apresentarem dispositivos adicionais. Segundo ele, a intenção é partir para testes que comprovem as características propostas pelos pesquisadores da UFMG. “Chegamos a fazer um teste da primeira versão do trator, construída com motor de 18 cavalos e sem tração quatro por quatro. Ele se mostrou fraco com relação aos serviços de fazenda. Na nova versão, feita com apoio da Fapemig, colocamos um motor mais potente”, conta. Os novos testes estão previstos para o início de dezembro e acontecerão na fazenda da Escola de Veterinária da UFMG.

A patente do produto foi pedida junto à universidade, mas, somente após os testes, as características do veículo poderão ser confirmadas. De acordo com o coordenador do projeto, a partir dos testes, será possível chegar, inclusive, a um valor aproximado de mercado para o produto. Ele diz que, inicialmente, é possível que o grupo deixe o protótipo para uso em alguma fazenda, a fim de observar seu desempenho no dia a dia. “A partir daí, podem surgir interessados em projetar e construir o veículo em série”, prevê. Até então, ele já participou de duas exposições, entre elas, a Inovatec, uma das maiores feiras de inovação tecnológica do país. 

Até hoje, a construção do veículo misto já envolveu 14 estudantes do curso de Engenharia Mecânica da UFMG, sob a coordenação dos professores Ramon Molina e Fabrício Pujarte, que atua na área de projetos automotivos. Molina destaca a importância do aprendizado prático para os alunos. “Na UFMG, sempre temos um veículo sendo projetado. Ainda que não cheguem ao mercado, eles são uma grande fonte de aprendizado. Aqui, os alunos aprendem a projetar uma suspensão, soldar, usinar. Isso é muito importante na formação de um engenheiro”, diz.

Concretizando ideias

O veículo misto recebeu apoio da Fapemig por meio do Projeto Inventiva, que apoia o desenvolvimento de protótipos de produtos ou processos inovadores. Além da Fundação, participam da iniciativa, o Sebrae-MG, o Instituto Euvaldo Lodi (Iel) e o Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais (BDMG). O Inventiva visa, principalmente, facilitar o caminho para a transferência de tecnologia ao mercado. Podem concorrer ao financiamento inventores e pesquisadores independentes, microempresas e instituições de ensino e pesquisa que atuem em parceria com o inventor ou pesquisador e a microempresa. As propostas enviadas devem ser de até R$ 30 mil.

Segundo o presidente da Fapemig, Mario Neto Borges, o Inventiva preencheu uma lacuna, pois, até seu lançamento, não havia na instituição uma linha para apoiar a construção de protótipos. “Isso mostra o que Minas Gerais tem feito no sentido de juntar esforços de seus mecanismos e agentes, sintonizados na proposta de tornar o Estado competitivo nos cenários nacional e internacional.” O Inventiva não depende do lançamento de um edital para receber propostas. Para solicitar apoio, o pesquisador ou inventor precisa preencher o formulário de inscrição, disponível na página da Fapemig (www.fapemig.br), e encaminhá-lo à Fundação. As propostas recebidas passam por uma primeira triagem e são avaliadas por uma comissão especial de julgamento, que, entre outros critérios, analisa o caráter inovador do projeto, o potencial mercadológico e os possíveis impactos socioeconômicos no âmbito estadual.

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