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06h00min - 14 de Abril de 2013 Atualizado em 08h05min - 30 de Junho de 2013

Pesquisador alemão resgata a primeira obra sobre a geografia e a administração de Minas

Radicado há mais de 40 anos no Estado, o geólogo Friedrich Renger devolve a Minas Gerais estudo responsável por direcionar o planejamento do estado em meados no século XIX

Na obra Noções Geográficas e Administrativas da Província Minas Gerais, de 1862, os contornos de Minas Gerais conhecidos hoje já haviam sido registrados pela cartografia do alemão Henrique Gerber. A serviço da então província, há 150 anos, o engenheiro publicou aquela que é considerada a primeira compilação de registros geográficos, sociais, culturais, econômicos e administrativos do Estado.

Devido à sua relevância histórica e ineditismo, o documento foi reeditado e relançado na última semana na Academia Mineira de Letras (AML), pela Coleção Mineiriana da Fundação João Pinheiro (FJP), composta por edições atualizadas de livros, estudos e manuscritos inéditos dos séculos XVIII, XIX e XX.

A nova edição da obra, organizada pelo doutor em Geologia e pesquisador do Instituto de Geociências da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Friedrich Ewald Renger, reconta uma parte relevante da história mineira de meados do século XIX.

“O livro e o mapa foram largamente utilizados em sua época por abordar, de forma concisa, os mais diversos aspectos da geografia e da vida social, econômica e administrativa da província de Minas Gerais”, destaca a coordenadora da Coleção Mineiriana, Maria Marta Araújo.

Admirador do trabalho empreendido pelo seu compatriota, Friedrich Renger resgatou a obra original em uma biblioteca alemã. Após dois anos de consulta a arquivos e relatórios, com o apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa de Minas Gerais (Fapemig) e colaboração doArquivo Público Mineiro e Instituto Cultural Amilcar Martins, que cederam imagens de seus acervos, o estudo foi concluído.

Além do conteúdo original, a reedição é enriquecida por documentos iconográficos e cartográficos, especialmente pela Carta da Província de Minas Gerais. A obra está disponível para venda na FJP ao custo de R$ 70,00.

O “mineiro” Friedrich Renger

Radicado em Minas Gerais há mais de 45 anos, Friedrich Renger teve seu primeiro contato com as terras mineiras logo após concluir a graduação, em 1966, na Universidade Livre de Berlim, na Alemanha.

Em 1967, o geólogo ingressou no doutorado, onde decidiu estudar a composição do solo e a formação de rochas magmáticas – resultantes da consolidação do magma – na Serra do Espinhaço, conjunto de montanhas, morros e vales com extensão de mais de 1.000 km, entre Ouro Branco (MG) e Xique-Xique (BA).

O trabalho, inédito no Brasil e na Alemanha, rendeu a Friedrich a medalha de ouro por ter apresentado a melhor tese de doutorado em sua faculdade. Em seguida, o alemão se transferiu definitivamente para Minas, onde desenvolveu estudos geológicos para diversas empresas e criou um instituto de pesquisa mineral em Diamantina, que existe até hoje, no Vale do Jequitinhonha.

Em entrevista à Agência Minas, Friedrich Renger fala um pouco sobre sua vida, seu interesse pela Serra do Espinhaço e pela geologia e história mineiras. O pesquisador também traz curiosidades sobre a obra lançada pela FJP.

Por que a obra “Noções Geográficas e Administrativas da Província Minas Gerais” pode ser considerada um marco da história mineira?

Porque foi o primeiro estudo dentro de uma visão moderna, com estatísticas, informações sobre importação, exportação e a evolução dos preços dos itens do que chamamos, hoje, de cesta básica. A obra é um resumo da geografia e hidrografia do Estado, revelando picos e altitudes que não eram conhecidos. O autor, Henrique Gerber, também fez um levantamento das estradas e destrinchou toda a administração da província, incluindo os três poderes, as comarcas, os municípios, além da demografia. O estudo é completo e ajudou no planejamento regional da província, sobretudo no sistema de transporte e divisão administrativa.

Esta definição do desenho do território mineiro foi definitiva?

Depois do estudo de Henrique Gerber, foram feitas algumas adaptações e melhorias. Temos que levar em consideração que, naquela época, devidos aos recursos escassos, era mais difícil fazer o levantamento de estradas, por exemplo. Hoje, contamos com recursos aéreos e fotos de satélites. No século XIX, a geografia era determinada com observações astronômicas, sobretudo do Sol, para definir a longitude e latitude de cada ponto.

Quais são os principais aspectos da alta administração abordados pela obra?

Ela traz toda a estrutura da província. Não só a composição dos três poderes, mas como também o sistema de eleições, que era diferente. Na época, elas eram indiretas e o cidadão, para se candidatar, tinha que ter posses, incluindo escravos.

O que o motivou a vir para o Brasil e estudar a Serra do Espinhaço?

Fiz a graduação na Alemanha e depois optei por estudar um tema considerado “exótico” para nós, alemães. Tive a oportunidade de fazer um trabalho de campo na Serra do Espinhaço, cuja geologia era desconhecida até a década de 1970. Passei por Conceição do Mato Dentro, Serra do Cipó e Diamantina, por exemplo. Naquela época, o Brasil, em especial Minas Gerais, oferecia muitas possibilidades em Geologia. Já em Minas, depois também me interessei e especializei no estudo de diamantes.

SEGOV - Secretaria de Estado de Governo de Minas Gerais

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