BELO HORIZONTE (27/11/08) - Na abertura do segundo dia de um dos mais importantes fóruns de desenvolvimento sustentável, que está sendo realizado em Belo Horizonte, o presidente da Green Cross Brasil, Celso Claro, fez um retrospecto de todas as conversações com lideranças mineiras para que o Diálogos da Terra no Planeta Água pudesse ser realizado no Estado. Ele ressaltou a parceria das secretarias de Estado de Ciência,Tecnologia e Ensino Superior (Sectes) e Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (Semad) e da Fundação Renato Azeredo. Explicou que desde o início foi levada em consideração a importância de Minas Gerais quando se fala nas bacias hidrográficas do Brasil e as ações efetivas na gestão desses recursos naturais. O australiano Ian Lowe fez uma exposição das transformações ocorridas no mundo e disse confiar na mudança de postura em relação ao desenvolvimento sustentável em todo o mundo.

Celso Claro disse que o fórum Diálogos da Terra surgiu a partir da Carta da Terra, que teve Mikhail Gorbachev e Maurice Strong como idealizadores, ao lado da Unesco. “A Carta da Terra é utilizada como código universal de conduta para tornar o mundo melhor e mais justo. E o Diálogos surgiu para impedir desastres ambientais e lutar contra o flagelo da fome”, afirmou.

O presidente da Green Cross Brasil observou, ainda, que a população mundial saltou de 2 bilhões de habitantes na década de 60 para 6 bilhões em 2008. Como conseqüência houve um aumento significativo no uso de combustíveis fósseis no planeta e escassez de água em algumas partes do mundo, com áreas desérticas até mesmo na América Latina e conflitos pela demanda de rios e aqüíferos. “O Fundo Monetário Internacional (FMI) não consegue dar resposta para o desenvolvimento sustentável”, concluiu.

Comportamento da sociedade

O presidente da Fundação Australiana de Conservação e professor de Ciência, Tecnologia e Sociedade, Ian Lowe, falou sobre a mobilização da sociedade para o desenvolvimento sustentável. Em sua opinião, a desigualdade entre ricos e pobres está sendo ampliada e há um uso excessivo da produtividade do planeta. “O nosso sistema econômico tem problemas graves, como poluição agrícola e industrial que podem produzir um colapso ambiental num futuro não muito distante. Acredito em mudanças de comportamento da sociedade, basta lembrar a restrição ao fumo. Hoje os fumantes já admitem que o direito das pessoas de ter um ar puro é mais importante ao aceitarem a delimitação de espaços para o uso do cigarro”, argumentou.

Lowe citou ainda em sua palestra o fim da escravidão, o direito do voto das mulheres, a queda do muro de Berlim, o fim do Apartheid na África do Sul, o surgimento do telefone celular e dos laptops, e por último, a eleição de um negro para a presidência dos Estados Unidos. Ele reconhece que o desenvolvimento econômico é quem comanda a sociedade. Entretanto, acredita que a idéia de consumismo tem de ser substituída e a economia passar a ser vista com um subgrupo. “As mudanças não são inevitáveis, elas podem e devem acontecer, sobretudo quando surgem das bases. Porém, temos de encorajar os nossos líderes, pois estamos num Titanic com uma necessidade de mudar a rota, porque não temos botes salva-vidas para todos. A terra tem de ser preservada para vivermos e para as próximas gerações”, concluiu o professor australiano.

O diretor da Green Cross InternationalXavier Guijarro destacou o fórum Diálogos da Terra no Planeta Água como algo que busca o consenso e jamais o conflito. Ele reconheceu como certa a escolha de Minas Gerais para sediar o evento que tem o foco na água, recurso natural imprescindível para o ser humano. “Encontramos no Governo de Minas o parceiro ideal para debatermos e apresentarmos, juntos, as propostas inovadoras na utilização da água e dos demais recursos naturais. O evento internacional vem exatamente para mudar o modo tradicional das pessoas de pensar e agir sobre a água”, afirmou.

Guijarro deixou claro que conhece as ações do Governo de Minas para acelerar o desenvolvimento sustentável. Chegou a citar, entre outros projetos e programas, a instalação do Hidroex – Centro de Excelência em Águas, localizado em Frutal, no Triângulo Mineiro. O Hidroex está em processo de reconhecimento pela Unesco, como Centro de Categoria II e estará aberto a profissionais gestores em recursos hídricos e pesquisadores brasileiros e de outros países.