Minas por Região
Segurança / Defesa Social

13h49min - 15 de Abril de 2015 Atualizado em 14h10min

Detentos do Presídio de Alfenas produzem ternos e paletós para todo o país

Empresa parceira investiu cerca de R$ 300 mil para a montagem da confecção dentro da unidade prisional

Detentos do Presídio de Alfenas, no Sul de Minas, encontraram na alfaiataria um novo propósito de vida. Dentro do galpão de trabalho construído pelos próprios presos, mãos, como as de Juliano dos Santos, de 32 anos, que nunca antes tiveram contato com máquinas de costura, linhas e agulhas, agora realizam um trabalho delicado para produzir paletós e ternos que chegam a custar no mercado até R$ 900, de acordo com o modelo.

No início, Juliano treinou com papeis os desenhos pontilhados em linha reta e em zig zag, até que ganhasse confiança para costurar os tecidos conforme o croqui. A destreza e a habilidade do detento, que cumpre pena há um ano e cinco meses, chamaram a atenção dos gerentes de produção da Maia e Maia Confecções, empresa parceira que investiu cerca de R$ 300 mil para a montagem da confecção dentro da unidade prisional.

Depois de dois meses de trabalho, Juliano tornou-se o coordenador da equipe, que conta com 30 detentos. É com orgulho que ele mostra como funciona a linha de produção dos paletós, desde a chegada dos tecidos até a embalagem, quando a peça já está pronta para ser comercializada.

"Esta foi uma oportunidade única na minha vida. Através da costura, a gente agora tem um emprego fixo. Vamos sair daqui com uma profissão", diz. O mérito do bom desempenho do detento deve-se também aos gerentes de produção da empresa, Anderson Teodoro e Paulo Romeiro Cintra, responsáveis pelo treinamento e pelo incentivo diário.

Para Teodoro a experiência de conduzir uma equipe de detentos foi desafiadora. Ele conta que no princípio muitas pessoas da empresa duvidavam do sucesso da iniciativa "Teve muita descriminação. Mas, apesar de tudo, decidimos apostar no projeto e deu certo. Depois de dois meses de treinamento já temos 450 peças prontas para a venda", relata o gerente. Segundo o gerente Anderson, o aprendizado foi rápido, tanto que alguns detentos já conseguem montar as peças praticamente sozinhos.

Investimento

Um dos sócios da Maia e Maia Confecções, Rafael Ribeiro Maia, avalia o investimento realizado dentro da unidade prisional como positivo e satisfatório. Segundo o proprietário da marca, o custo de manutenção da confecção gira em torno de R$ 18 mil mensais, entre pagamento de funcionários, manutenção e compra de materiais. O investimento, de cerca de R$ 300 mil, valeu a pena. A empresa já demonstra interesse em ampliar a confecção, empregar mais presos e começar a costurar calças dentro do presídio.

O galpão de trabalho tem 160 metros quadrados e abriga mais de 30 equipamentos, entre máquinas de costura reta, máquinas de costura especiais, mesas de passar e uma máquina de costura e corte de bolsos, a laser, que custa quase R$ 200 mil, segundo o proprietário da empresa.

"Eu estou satisfeito. Hoje, depois de dois meses de treinamento, estamos produzindo até 80 peças por semana. O objetivo é que possamos produzir esta quantidade de ternos por dia", planeja Rafael.

O empresário diz que seu objetivo com o projeto no Presídio de Alfenas vai além da busca de retorno financeiro para a Maia e Maia. Rafael diz que se trata também de um ato de solidariedade, uma vez que os detentos precisam de oportunidades para se reintegrar à sociedade.

"O preconceito lá fora é muito grande. A sociedade não quer acolher a pessoa que errou. A rejeição é alta e eu sempre digo para eles que é preciso ser forte. Aqui dentro estamos dando a oportunidade para muitos refazerem as suas vidas", diz o empresário.

Uma nova chance

Antes de se envolver com o tráfico de drogas, Uriel Ferreira, de 50 anos, era motorista. Preso há dois anos, esse pai de seis filhos nunca tinha tocado numa máquina de confecção. Hoje ele é responsável por costurar as mangas dos ternos e paletós fabricados na unidade produtiva da Maia e Maia no Presídio de Alfenas. Uma nova realidade para quem passava os dias dentro da cela jogando baralho. Apesar da falta de experiência inicial, Uriel está indo muito bem. Entre linhas e tecidos, ele chega ao fim do dia com um saldo de 60 mangas costuradas.

Assim como para Uriel, a realidade também é outra para os 30 detentos que passam oito horas por dia dentro da confecção. Em um ambiente calmo e tranquilo, a concentração é primordial para que as peças sejam bem costuradas. O ambiente não lembra em nada a imagem comum que as pessoas têm na televisão de um presídio brasileiro: paredes claras, limpas e homens concentrados em suas mãos e máquinas, que geram um produto que ainda está muito associado no imaginário coletivo a um status social superior.

Cerimônia de inauguração

Durante a cerimônia de inauguração da unidade de trabalho, realizada na manhã desta quarta-feira (15/4), o subsecretário de Administração Prisional da Secretaria de Estado de Defesa Social (Seds), Antônio de Padova Marchi Junior, destacou a importância de parcerias de trabalho entre as unidades prisionais e as empresas privadas.

"Momentos como o de hoje são muito importantes. Percebemos aqui a articulação de toda a sociedade, que inclui os poderes executivo e judiciário do município, mostrando que é possível avançar dentro do sistema prisional. Parcerias como esta permitem aos sentenciados a possibilidade de trabalhar para que estas pessoas possam ter uma vida econômica fluente, sem ter que voltar para a criminalidade", disse o subsecretário.

O diretor geral do Presídio de Alfenas, José Roberto dos Reis Fernandes, falou da incessante busca por parceiros e da satisfação em conseguir na iniciativa privada pessoas que apostam em projetos como estes. "Depois de visitar umas dez empresas do ramo de confecção, fui indicado para conhecer a Maia e Maia. Fiquei surpreso ao ouvir do proprietário que ele sempre quis ajudar os presos, mas não sabia como", contou José Roberto.

Números

Em Minas Gerais, cerca de 13 mil presos trabalham. A cada três dias trabalhados, os presos ganham um dia de remição na pena. A empresa parceira paga ao sentenciado cerca de R$580 reais por mês pelo trabalho desenvolvido. O salário é repassado para a Seds pela empresa parceira e a secretaria é responsável por depositar a quantia em uma conta bancária aberta para o preso. Segundo o superintendente de Atendimento ao Preso, Helil Bruzadelli, o detento recebe um cartão que lhe dá o direito de sacar o dinheiro quando ele ganha a liberdade.

SEGOV - Secretaria de Estado de Governo de Minas Gerais

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