Minas por Região
Segurança / Defesa Social

17h07min - 05 de Dezembro de 2013 Atualizado em 17h56min

Detentos do sistema prisional de Minas gravam CD com artistas nacionais

O trabalho será divulgado ainda neste ano em Belo Horizonte, em show do padre Fábio de Melo

Bernardo Carneiro
Detentos da Nelson Hungria gravaram com a dupla Antonio Carlos e Renato em um estúdio profissional
Detentos da Nelson Hungria gravaram com a dupla Antonio Carlos e Renato em um estúdio profissional

Intérpretes e compositores como Paulinho Pedra Azul, Padre Fábio de Melo, Cris do Vozes do Morro, Tom de Minas, a dupla Antonino Carlos e Renato, entre outros, começaram a gravar, nesta semana, com detentos do sistema prisional de Minas Gerais, o CD Reciclando Vidas. Ainda este ano haverá uma pré-divulgação, em Belo Horizonte, durante o show do padre Fábio de Melo e em abril de 2014 o lançamento oficial na orla da Lagoa da Pampulha, no Festival BH na Paz.

O estúdio profissional da Associação Arte Pela Paz, localizado no bairro da Lagoinha, na região Central de Belo Horizonte, foi o cenário do encontro entre a dupla Antonio Carlos e Renato e três presos do Complexo Penitenciário Nelson Hungria: Adriano Miranda (29 anos), Alexandre Dias (28) e Welber Borges (28). Os cinco artistas gravaram a música Hoje Sou Livre, escrita pelo detento Alexandre Dias, que trata de conversão religiosa e do arrependimento. Renato, da dupla sertaneja, gostou do momento de gravação e elogiou o talento dos presos. “É uma grande alegria cantar com pessoas que têm dom e que precisam de ajuda”, disse.

Os mais diversos estilos musicais estarão presentes no CD, que terá 12 faixas de rap, sertanejo, hip hop, gospel e pop rock. Participam do CD 16 compositores e intérpretes, hoje presos no Ceresp Centro Sul e no Complexo Penitenciário Estevão Pinto, de Belo Horizonte; no Presídio de Jaboticatubas, no Presídio de Brumadinho e no Presídio Antonio Dutra Ladeira, em Ribeirão das Neves. A temática das músicas, independente do ritmo, estão em constante diálogo com a paz. As canções falam de justiça, dignidade, direitos humanos e respeito.

Talentos garimpados em ação do Estado

A diretora de Ensino e Profissionalização da Subsecretaria de Administração Prisional (Suapi), Sandra Regina Lopo Madureira, explica que os talentos que agora vão gravar o CD com artistas de sucesso foram identificados e preparados por meio do Projeto Arte Para Todos. Esta ação é desenvolvida em 45 unidades prisionais, por meio da parceria da Secretaria de Estado de Defesa Social (Seds) com a Associação Arte Pela Paz. “O objetivo é ajudar na profissionalização de presos com grande potencial artístico e tornar a Casa de Cultural Arte Pela Paz (mantida pela Associação Arte Pela Paz) um ponto de referência para quando eles tiverem a liberdade”, destaca a diretora.

Futuro dos detentos

Antonio Carlos e Renato ficaram tão impressionados com o talento e a qualidade musical do trio Adriano, Alexandre e Welber que dentro do estúdio fizeram o convite para eles participem do CD da dupla, que começará a ser gravado em breve. Convite que, para o preso Welber Borges significa um sonho. “Gravar em um estúdio e ainda com profissionais é algo sem descrição. Minhas pernas tremem, é muita emoção. Podem contar comigo, a minha parte eu vou fazer”, afirmou.

Segundo o diretor da Arte Pela Paz - parceira do Estado na ressocialização de presos - Anderson Martins, o trio tem condições de conquistar um espaço no mercado conhecido como economia criativa. “Há um mercado no Brasil capaz de absorver estes artistas, pois os bens e serviços culturais estão pleno desenvolvimento econômico”, destacou.

A associação Arte pela Paz foi criada por artistas em 2002 com o objetivo de qualificar profissionalmente pessoas com potencial, nas mais diversas áreas das artes. São oferecidos cursos de técnico de áudio e iluminação, cenografia, teatro, canto, música, pintura e atividades circenses.

De preso a professor

Fernando Matos é professor das oficinas de música no projeto desenvolvido nas unidades prisionais e trabalha também como assistente administrativo na associação Arte pela Paz. Sua história pessoal é exemplo para seus alunos de música - de força de vontade e capacidade de reconstruir a vida. Ele é percussionista e chegou a tocar com artistas como Bezerra da Silva, Dona Ivone Lara, Leci Brandão e Paulinho Pedra Azul, mas interrompeu a carreira musical por envolvimento no tráfico de drogas e cumpriu pena nos regimes e fechado e semiaberto.

Antes de terminar a pena decidiu restabelecer sua vida e abandonar as drogas. “A música é uma forma de libertação das nossas prisões internas e fantasmas. Quando conto para pessoas presas o meu passado, elas não acreditam. Alguns agentes penitenciários já ficam surpresos ao me encontrar de volta como professor de música” revela Fernando. O músico conta também que nenhum carro importado ou dinheiro substitui os bons momentos com os filhos e a família. Ele acompanhou as gravações do trio do Complexo Penitenciário Nelson Hungria e compartilha a avaliação feita em relação aos artistas. “Eles são talentosos”, garante.

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