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Segurança / Defesa Social

12h11min - 02 de Junho de 2015 Atualizado em 12h08min

Fábrica produz 20 mil peças de gesso por mês com trabalho dos detentos na Nelson Hungria

A Arte en'Gesso, de Contagem, ocupa área de mil metros quadrados na penitenciária e usa a mão de obra de 38 presos. Na inauguração, há sete anos, eram apenas cinco

Osvaldo Afonso/Imprensa MG
Namoradeiras produzidas na Arte en'Gesso, no Complexo Penitenciário Nelson Hungria, em Contagem
Namoradeiras produzidas na Arte en'Gesso, no Complexo Penitenciário Nelson Hungria, em Contagem

Em 2008, a Secretaria de Estado de Defesa Social (Seds) convidou o empresário Rodrigo Lima Braga para montar uma filial de sua fábrica de peças decorativas em gesso, que antes funcionava no município de Cachoeira da Prata.

Ele aceitou fazer um teste num galpão de 30 metros quadrados no Complexo Penitenciário Nelson Hungria, em Contagem, empregando na Arte en'Gesso a mão de obra de cinco detentos inicialmente.

Hoje, toda a produção foi transferida para a Nelson Hungria, numa área de mil metros quadrados, onde trabalham 38 internos.

Nos últimos sete anos transpondo os portões da penitenciária pelo menos três vezes por semana, Braga acostumou-se à rotina da revista corporal como condição para entrar na própria empresa. Ao sair de casa para trabalhar, o empresário sabe que no galpão não será possível controlar o estoque por meio de planilha no computador e falar ao celular com clientes e fornecedores.

O empresário garante que vale a pena. Segundo ele, as restrições impostas em nome da segurança da penitenciária não afetam em nada o que interessa: a linha de produção de 20 mil peças por mês, divididas em uma enorme quantidade de itens como cofrinhos, bichos variados, anões de jardim e imagens de santos. 

O ambiente todo branco, com peças na mesma cor, contrasta com o vermelho do uniforme da Subsecretaria de Administração Prisional (Suapi). Ali, os presos trabalham diariamente, das 7h30 às 16h30, misturando gesso e água, enchendo os moldes, pondo para secar, dando acabamento e embalando. O gesso vem de Pernambuco e a produção da fábrica, retirada várias vezes por mês de caminhão, é vendida no Brasil inteiro.

O coordenador de produção é Luís Henrique Ferreira Romão está no serviço há dois anos. Na falta de uma planilha eletrônica, ele controla entradas e saídas dos detentos no bom e velho caderno de papel, em que também desenha tabelas com o volume da produção.

Os números da fábrica são expressivos. Em abril de 2015, em 22 dias trabalhados, 506 caixas de peças foram despachadas, 19.804 peças produzidas e 177 quebradas. Romão garante que o índice de quebra é baixo em relação ao número de peças produzidas. “Trabalhamos para reduzir este índice ainda mais. O ideal é não haver quebras”, diz.

Preso há cinco anos na Nelson Hungria, Alcebíades Ferreira do Nascimento tornou-se coordenador de qualidade da Arte en’Gesso depois de dois anos trabalhando no galpão. Pai de três filhos, o detento de 41 anos afirma que a oportunidade significou adquirir uma profissão que nunca teve.

“Hoje eu sou um profissional. Se o assunto é relacionado a gesso eu sei quase tudo. Aprendi aqui dentro e estou muito satisfeito. Tem momentos que nem percebo que estou preso. Ficamos com a cabeça ocupada o dia inteiro”, diz o detento.

Resistência da família

O empresário Braga não esconde sua satisfação e diz ter acertado ao fazer a escolha que gerou críticas da família e dos amigos há sete anos. “Meus familiares não concordaram com a instalação da fábrica dentro da penitenciária. Diziam que seria muito perigoso. Mas fui muito bem orientado pela Secretaria de Estado de Defesa Social e senti que daria certo”, afirma.

Agora, Braga quer dar um passo à frente. Ele planeja um segundo galpão dentro da Nelson Hungria. Nessa instalação, ele pretende empregar mais 30 presos na pintura das peças, que atualmente é feita num ateliê em Belo Horizonte.

Bons frutos

Não é só o sucesso econômico que motiva o dono da Arte en'Gesso. Ele se diz gratificado com a ressocialização de presos por meio do trabalho na fábrica. Entre as muitas histórias positivas que tem para contar, Braga cita a de um detento que, depois de conquistar a liberdade, voltou para a terra natal, Monte Negro, em Rondônia, e tornou-se artesão em gesso.

Além do ofício, o ex-preso Galego, como é conhecido, está ensinando crianças a fabricar peças em um projeto de parceria com a prefeitura municipal de Monte Negro. Recentemente, o ex-detento ligou para pedir dicas de pintura, conta Rodrigo Braga.

Outro ex-funcionário da fábrica também vive atualmente do ofício aprendido na Nelson Hungria. Depois de cumprir a pena, Luciano de Jesus passou a fabricar e pintar peças que vende pela internet. Braga diz, em tom de brincadeira, que perdeu um empregado e ganhou um concorrente, que, por sinal, assegura, vai muito bem.

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