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Copa do Mundo | Cultura

13h46min - 13 de Maio de 2014 Atualizado em 18h57min

Gastronomia mineira é mais um atrativo para visitantes durante a Copa do Mundo

Cruzamento de produtos típicos das culturas indígena, africana e europeia deu origem à tradicional culinária de Minas Gerais

Daniel Mansur / Museu de Artes e Ofícios
Culinária mineira conta com utensílios típicos e específicos para o preparado das receitas
Culinária mineira conta com utensílios típicos e específicos para o preparado das receitas

A gastronomia mineira será um dos atrativos mais apetitosos a ser oferecido aos turistas durante a Copa do Mundo. Visitantes do mundo inteiro vão se deliciar com os sabores mineiros. Pesquisa recente da Secretaria de Estado de Turismo e Esportes demonstra que a gastronomia é a primeira referência dos entrevistados quando se fala do Estado. O pão de queijo, o tutu à mineira, o tropeiro e o frango com quiabo, além dos doces e quitandas, já fizeram a sua fama. Para explicar a origem da culinária mineira é preciso voltar à virada dos séculos XVII e XVIII, quando houve o cruzamento de produtos típicos das culturas indígena, africana e européia.

Eduardo Frieiro, em seu livro “Feijão, Angu e Couve”, descreve não só as origens da culinária feita em Minas Gerais, como também os costumes mineiros à mesa. Se o ouro era farto, a comida era pouca e, consequentemente, cara. Alimentar a população que acabava de chegar era tarefa árdua não só pela dificuldade em transportar o alimento, como pela precariedade das plantações e criações naquela época. Plantava-se apenas o essencial para a sobrevivência. Com relação ao histórico dos produtos consumidos, a mandioca foi o principal sustento das famílias à época. A incidência do bócio nas populações era enorme por causa da falta de sal, considerado artigo de luxo. A comida dos escravos, por exemplo, não levava sal, e é daí que vem o angu mineiro sem sal.

É nesse cenário que a cozinha mineira floresce. Exploradores de todos os cantos do país e do mundo, portugueses, negros e índios passaram a compartilhar hábitos e ingredientes. Os vegetais mais usados, além da mandioca, eram o milho, a cana e a couve, além das frutas da terra. Quanto à oferta de carnes na cozinha mineira, o tipo mais presente era a de porco, seguida da de frango e, por último, a carne de boi. “O porco, que veio da Europa, é um animal extremamente resistente e exigia pouco para a criação. Toda casa tinha no fundo um cercadinho e qualquer resto de alimento era suficiente para eles. E, em contrapartida, era aproveitado por inteiro. O frango é uma ave frágil. Na cozinha tradicional mineira, frango era comida de domingo. Era destinado às parturientes e às pessoas doentes. No entanto, as joias da comida mineira vêm do frango, a exemplo do frango com quiabo e ao molho pardo. São pratos que marcaram época na cozinha mineira, mas eram menos ofertados, considerados especiais”, explica a historiadora Márcia Nunes, do restaurante Dona Lucinha. Quanto ao gado, a maior dificuldade era a questão do sal, alimento imprescindível à sobrevivência dos bois.

As primeiras incursões dos bandeirantes em busca do ouro trouxeram a cozinha tropeira, também conhecida como cozinha seca, cuja base era a farinha, carne seca, banha e feijão. Pouco tempo depois, com a vinda das famílias, começaram a surgir as roças. As caravanas traziam também porcos e galinhas. É quando nasce a comida de fazenda, a cozinha molhada. De acordo com o pesquisador da gastronomia mineira Eduardo Avelar, a comida mineira tem suas origens no final do século XVII e início do século XVIII, quando surge o tutu, o feijão tropeiro, a galinha caipira com quiabo e angu. “Essa era a cozinha praticada na época justamente pela dificuldade em se adquirir alimento. Essa cozinha se origina da mistura das culturas do índio, do negro e do português”, explica.

Com o declínio do ouro, nas primeiras décadas do século XIX, a agricultura começa a se desenvolver e a criação de gado expande. Inicia-se, assim, a indústria de laticínios. O leite produzido era de boa qualidade, possibilitando assim a produção do famoso “queijo de Minas”. Em meados do século XIX, outro produto típico de Minas Gerais, o café, já havia se tornado a bebida predileta dos brasileiros. Em Minas, o seu uso se difundiu rapidamente. “Na casa mineira, não se deixa sair o visitante sem que lhe ofereçam uma xícara de café – elo de cordialidade e convivência social. A recusa pode ser interpretada como desfeita aos donos da casa”, registra Frieiro em seu livro.

Mudança de status

De acordo com Márcia Nunes, o que hoje é destaque na gastronomia mineira tinha outro status até bem pouco tempo atrás. “Havia uma vergonha da comida mineira, da cachaça, da canjiquinha. Até o homem da roça tinha vergonha dela, não a servia para visitas”, disse. Diante disso, sua mãe, dona Lucinha Nunes, iniciou um movimento de resgate e valorização dos saberes e modos de fazer da comida mineira. Morando no Serro e lecionando em escola rural, foi ali que dona Lucinha começou, 60 anos atrás, a pesquisar as raízes de nossa culinária. Seus estudos eram repassados aos alunos, pais de alunos e a toda a comunidade. “Ela queria mostrar a importância de preservar toda uma cultura, e ensinar a valorizar o nosso produto, a nossa história”, destaca Márcia.

E assim, com o esforço iniciado por dona Lucinha e consolidado por um grande número de profissionais da gastronomia atual, a comida mineira conquistou lugar de destaque no cenário nacional e internacional. Um bom exemplo da expansão de suas fronteiras foi a escolha de Minas Gerais para representar o Brasil no Madrid Fusión, maior Congresso de Gastronomia que reúne jornalistas internacionais e os melhores chefs do mundo, realizado no ano passado, na capital espanhola. Além da autenticidade e da tradição da sua gastronomia, Minas Gerais foi selecionada pelo fato de ser o primeiro Estado a apresentar a convergência de esforços para alavancar, ainda mais, a gastronomia local.

A gastronomia, além de um traço forte da cultura mineira, é um importante setor para o desenvolvimento econômico do Estado. “Nosso objetivo é o de consolidar a gastronomia como diferencial competitivo para o turismo. O Estado compreende o setor como estratégico para o desenvolvimento econômico, sendo potencializado enquanto política de governo, uma vez que Minas Gerais abriga estabelecimentos de renome internacional e festivais gastronômicos de relevância nacional”, pontua Marina Simião, superintendente de gastronomia da Secretaria Estado de Turismo e Esportes (Setes).

SEGOV - Secretaria de Estado de Governo de Minas Gerais

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