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Centenas de macacões e botas chegam à Penitenciária Dênio Moreira, em Ipaba, no Vale do Aço, cheios de graxa das máquinas de uma grande siderúrgica ou impregnados de terra das vastas plantações de eucalipto da região. No entanto, com o trabalho realizado pelos presos, os uniformes voltam para os locais de origem limpos e cerzidos.

Ao todo, 33 detentos garantem o padrão de qualidade que conquistou os clientes finais do serviço, no trabalho feito em duas lavanderias industriais, uma própria da Secretaria de Estado de Defesa Social (Seds) e outra mantida por um parceiro privado, a Gimbra Lavanderia. Na lavanderia própria, 18 presos cuidam diariamente da higienização de 800 peças de uniformes e botas de três mil trabalhadores de empresas terceirizadas da Celulose Nipo-Brasileira (Cenibra), que atuam nas florestas da empresa. Este contrato de prestação de serviços para a Cenibra rende aproximadamente R$ 12 mil reais mensais, que são revertidos para o caixa do Governo do Estado por meio de Documento de Arrecadação Estadual (DAE).

De acordo com o coordenador de Serviços Gerais da Cenibra, Edson Freire, o trabalho dos presos não deixa nada a desejar em relação ao de trabalhadores de lavanderias estabelecidas no Vale do Aço. Ao contrário, segundo ele, quando se trata de limpeza manual de alguns tipos de equipamentos de proteção individual (EPI´s) que não podem ir para a máquina, o resultado é ainda melhor. “Para nós, a parceria com a Seds também tem sido um ótimo investimento”, enfatiza Freire.

Ressocialização

Na outra unidade industrial instalada no presídio, a filial da Gimbra Lavanderia, 15 detentos cuidam, por dia, dos 700 uniformes dos operários da manutenção de equipamentos da Usiminas.

A proprietária da Gimbra Lavanderia, Erli de Souza Pinto, diz que buscou a parceria com a Seds não só por causa do déficit de mão de obra no mercado, mas pelo desejo de contribuir para tirar presos da ociosidade. “A sociedade precisa fazer sua parte e trabalhar em prol da ressocialização. Temos a responsabilidade de dar oportunidade para que essas pessoas tenham uma qualificação para encontrar espaço no mercado de trabalho quando voltarem para o convívio social”, explica a empresária.

Erli afirma ter se surpreendido com a produtividade e a qualidade do serviço dos detentos da Dênio Moreira. “Quando eu entrei pela primeira vez em uma unidade prisional achei tudo muito estranho. Mas, hoje, é tudo muito tranquilo. Nunca tive problema com nenhum dos meus prestadores de serviço. Eu volto para o escritório e fico tranquila sabendo que posso confiar neles e que não preciso me preocupar com a produção”, diz.

O detento Lourival Coelho da Silva, de 38 anos, cuida da separação das roupas e o controle de entrada e saída das peças. Ele valoriza a remuneração mensal de três quartos do salário mínimo, o que lhe possibilita ajudar a família e sobretudo, a remição de pena, reduzida em um dia a cada três trabalhados.

“Trabalhar aqui dentro é uma oportunidade maravilhosa para a gente. Ajuda demais a distrair a cabeça e a passar o tempo. Sem falar que faz a gente se sentir mais útil e pensar que podemos ter um futuro diferente lá fora”, contou Lourival.

Trabalho no Sistema Prisional

O sistema prisional mineiro conta com 481 frentes de trabalho e fomenta mais de cem tipos de atividades, como artesanato, construção civil, marcenaria, horticultura, corte e costura, panificação e fabricação de pré-moldados, entre outros. O trabalho é realizado por meio de parcerias com instituições públicas e privadas, que recebem diversos incentivos para a utilização da mão-de-obra prisional.

Atualmente, mais de 14 mil presos trabalham enquanto cumprem pena nas unidades prisionais de Minas. Mais de 50% dos detentos já participaram de diversos cursos de profissionalização, dentre eles o de marcenaria, jardinagem, alvenaria, reciclagem, padaria, confecção de roupas, artesanato, auxiliar administrativo, informática básica, construção e reparo, garçom, bombeiro hidráulico e paisagismo.