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Segurança / Defesa Social

21h31min - 05 de Março de 2010 Atualizado em 20h01min - 30 de Junho de 2013

Vencedores do Festipen lançam o III CD “Vozes das Celas”

BELO HORIZONTE (05/03/10) - Foi lançado, nesta sexta-feira (5), o III CD “Vozes das Celas”, resultante do 3º Festival de Música do Sistema Penitenciário de Minas Gerais (Festipen), que reúne músicas compostas e cantadas por detentos de cinco unidades prisionais da Zona da Mata, administradas pela Subsecretaria de Administração Prisional (Suapi) da Secretaria de Estado de Defesa Social (Seds). O lançamento aconteceu no auditório do Centro Público de Promoção do Trabalho (CPPT), no bairro Gameleira, em Belo Horizonte. O projeto é promovido pela Seds, com patrocínio da Cemig e Secretaria de Estado de Cultura (SEC), e apoio do Ministério da Cultura (MinC).

Gravado em dezembro de 2009 na Penitenciária José Maria Alkimin (PJMA), em Ribeirão das Neves, na Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH), o CD tem músicas de representantes das penitenciárias Professor Ariosvaldo Campos Pires e José Edson Cavalieri, de Juiz de Fora, do Presídio de Viçosa, da Penitenciária Doutor Manoel Martins Lisboa Júnior, de Muriaé, e do Presídio de São João del-Rei. Eles apresentaram um repertório eclético, com ritmos como samba, pop rock, hip hop, reggae e sertanejo. Crime, amor, saudade e arrependimento são os temas mais recorrentes.

Evento

O lançamento foi aberto com a execução do Hino dos Agentes Penitenciários, de autoria de José Estadeu Costa, idealizador do Festipen, entoado pelos servidores da PJMA. Em seguida, o coral convidado Vozes da Cela, formado por recuperandos do Presídio de São Lourenço, no Sul de Minas, apresentou três músicas.

O secretário de Estado de Defesa Social, Moacyr Lobato de Campos Filho, destacou que os vencedores do Festipen são verdadeiros artistas. Ele fez questão de expressar sua satisfação em participar do lançamento: “Há apenas duas semanas estou no cargo de secretário. Sei que a pasta da Defesa é muito complexa e problemática, mas iniciativas como esta, que tanto nos emocionam, são capazes de compensar qualquer dificuldade. Estou aqui para homenagear pessoas que têm sonhos, dores, talentos e esperanças e, que, acima de tudo, têm condição de se recuperar e ir em frente”, declarou.

O superintendente de Atendimento ao Preso da Seds, Guilherme Augusto de Faria Soares, reforçou o sucesso do Festipen e contou que soube do desejo de alguns agentes de fazer um festival para a categoria. “Quem sabe não teremos, em breve, um festival para os agentes penitenciários? Ele poderia se chamar Festiaspen”, brincou.

José Estadeu Costa, que é delegado aposentado, disse ser testemunha da evolução do sistema prisional. “Hoje Minas segue outro caminho, valorizando e respeitando o preso, com trabalho, educação e espaço para a criatividade fluir. E por causa disso iniciativas como o festival têm dado certo”.

O evento ainda contou com a apresentação, além dos autores e intérpretes das 15 canções classificadas, de Serginho Beagá, grupo Tambor de Matição e Fabinho do Terreiro e Banda. Também marcaram presença no lançamento do CD a subchefe do Estado Maior da Polícia Militar, coronel Luciene Albuquerque, a chefe Regional do Ministério da Cultura, Aída Ferrari, o corregedor-geral da Defensoria Pública, Marcelo Tadeu de Oliveira, o vereador de Belo Horizonte, Léo Burguês, a coordenadora da Fundação Nacional de Artes, Miriam Lott, o chefe de gabinete da Suapi, Samuel Marcelino Oliveira Júnior, a diretora de Ensino e Profissionalização, Sandra Regina Lopo Madureira Santos, o diretor de Segurança Externa, André Luiz Mourão, diretores de unidades prisionais do Estado, familiares de presos, entre outros.

Artistas

Ouvindo atentamente o III CD Vozes das Celas, é possível saber muito sobre os autores das composições. Há letras descontraídas, como o samba “Festa do Chicão”, de Carlos Roberto de Oliveira Cruz, do Presídio de Viçosa: “Fui convidado para a Festa do Chicão / tinha muito gole e pé de porco no feijão / mas quando eu cheguei lá eu já estava embriagado / quase que eu entro numa fria, dançando com a mulher do delegado”.

Outras indicam a preocupação social, como no caso do rap “Paz em São João”, de Adriano Antônio de Jesus, do Presídio de São João del-Rei: “A criminalidade hoje em dia está demais / crianças envolvidas por trás de algum dos pais / tem pai que não esquenta a cabeça com nada / ajuda a fazer o filho e deixa a mãe abandonada”, diz a letra. “Encontrando a solução”, de Leandro Heleno Raposo, da Penitenciária Ariosvaldo Campos Pires, de Juiz de Fora, também insiste na temática. “Para compor a música, pensei na desigualdade do mundo, em crianças usando drogas, na falta de incentivo que favorece a criminalidade”. Ele propõe, em sua música “Tirar de cada um (dos ricos) apenas R$ 500 reais pra ajudar o nosso mundo a melhorar”.

O amor também aparece em muitas das canções. “Já faz um ano”, um pop de Carlos Felipe dos Santos, também de Juiz de Fora, foi dedicado à ex-namorada do autor. “Nos conhecemos em 12 de junho de 2000, dia dos namorados. Eu sempre escrevia cartas pra ela. Quando fizemos um ano, foi diferente. Mandei essa música pra representar o amor que eu tinha por aquela pessoa”, contou. “Meu amor”, um pop de Marcelo Antônio dos Santos”, do Presídio de Viçosa, também é obra de um apaixonado. Em ritmo que lembra as canções da jovem guarda, Marcelo cantou: “Meu amor, você deixou saudades / no meu coração restou felicidade/agora estou aqui, falando de amor, pra todo mundo ouvir”.

Uma das faixas mais interessantes, “Inimigo meu”, um hip hop de Agnaldo Timóteo, fala de uma força maléfica que impulsiona às pessoas a se enveredarem pelo crime: “Ele chega, profana, domina você/e muda a sua conduta, sem você perceber/você vira ferramenta de trabalho e então/roubar, matar e trair é a sua obsessão”.

História

A história do Festipen começou a ser desenhada no início da década atual quando o delegado aposentado José Estadeu Costa percebeu que os presos manifestavam-se musicalmente por meio de palmas ritmadas, assovios, batuques nas grades ou em caixotes, como forma de extravasar suas angústias. Violeiro autodidata desde os 15 anos, apaixonado por música caipira e samba de raiz, Estadeu vislumbrou mais do que uma simples forma de entretenimento, mas uma possibilidade de ressocialização. Para ele, a música tem o poder de harmonizar o ambiente e afastar pensamentos ruins, como ideias de rebelião ou fugas. Além disso, o criador da iniciativa identificou em muitos presos verdadeiros talentos para fazer da arte uma forma de vida.

Animado, ele preparou um projeto e o submeteu à aprovação da Lei Rouanet, via Ministério da Cultura. Era o ano de 2005 e a aprovação chegou a tempo para a realização do 1º Festival de Música do Sistema Penitenciário (Festipen), com a participação de detentos de unidades prisionais de Pará de Minas, São Joaquim de Bicas, Contagem e Ribeirão das Neves. Em 2006, houve o lançamento do I CD Vozes das Celas, fruto desse processo.

A segunda edição do Festipen foi realizada em 2007, envolvendo presos de Teófilo Otoni, Ipaba, Governador Valadares, Vespasiano, Ribeirão das Neves e Belo Horizonte, e desencadeou no lançamento do II CD em 2008.

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